Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

sexta-feira, setembro 08, 2006

Dia 08/09/06 – Navio rumo à Santarém
O navio parou agora em Almerim e já segue. Todas as paradas são muito rápidas (10 minutos). Na última entraram umas 20 pessoas que foram para o piso de baixo. Armaram suas redes junto com as mercadorias: cerveja, caixa de ovos, cebola. Firula também está nesse piso, ora na proa, ora dentro. Mas só pode freqüentar o andar de baixo e tem de ficar amarrada na guia. Firula é a minha alegria preta. Adapta-se a qualquer lugar e com todas as gentes.
É muita água aqui. Uma imensidão de líquido. Palavra feia é essa: líquido. Líquido, liquidar, liquidação.
Para os ribeirinhos o rio é sua rua e o quintal a mata. Vimos botos – pulam emparelhados e voltam para o fundo. É tão alegre quando aparecem!
Às 18:00 horas o navio atracou em Monte Alegre para descarregar mercadorias. Entra gente, sai gente. Vendedores entram no navio. Vendem cocada (50 centavos) e amendoim (50 centavos). A cocada é deliciosa.
Tem um homem que dorme com a parte aberta da rede para baixo e ele também fica com a barriga pra baixo. Só se vê a cabeça pra fora, parece um morcego. O Jonas de Frechal já havia me dito que tem gente (inclusive ele) que gosta de dormir assim principalmente para se esquentar do frio. Esse mesmo senhor num outro momento me perguntou se eu era pesquisadora, pois estava portando um livro e caderno. Eu disse que não. E ele:
_ É de igreja, né?
_ Não meu senhor. Eu faço teatro, palhaço.
_ Ah.
...

Tem um senhor negro de cabelos brancos que veio com o neto na viagem.
O menino deve ter uns 4 anos.
Só os dois.
Cada um com sua rede.
Ambas da cor verde.
Uma ao lado da outra
É bonita a relação deles. O velho e o menino.
Em outra ocasião o velho assoprou o leite quente do neto.
Este esperava a hora em que, com sua pequena boca sentiria o gosto mais gostoso do leite.
Um leite branco como os cabelos do avô.
E esse seria o leite mais especial que tomaria em toda a sua vida.
Tudo bem, estava eu tentando fazer poesia de uma relação que não sei bem por que me fascinou e me fez mudar de caminho várias vezes só para contemplá-los. Tem pessoas ou “algos” que me hipnotizam.
No navio: a lua, o velho e o menino.

Marina já havia ido dormir e eu comecei a me conectar com duas crianças. Uma menina de 9 anos e o irmão Jota de 11. Sentei ao lado da menina e ficamos conversando. Ela falou que tinha olhado a cadelinha, falou da barbicha da Firula. Toda hora a mãe pedia que ela olhasse o Jota e queria saber onde ele estava. Perguntei se ela sempre tomava conta dele. Ela respondeu que o irmão não escuta direito, por isso a insistência da mãe. Eu e o menino nos conectamos. Parti para meu estudo do corpo desobediente. Bati o pé, (como quem espera impaciente) e o mandava parar com um Xiiii. Depois foi a vez da mão e eu repetia a mesma repreensão. Jota ria. A mãe o chamava para dormir e ele ficava me olhando para ver o que eu faria. Marco o tempo com o pé novamente e minha mão dá um tapa no pé. Jota ri. Repito a operação. Ele, brincando junto, também mexe seu pé. Olho para o pé de Jota. Repreendo-o. Ele ri. A irmã busca Jota que vai dormir embalado na rede.

O funcionário aumentou a temperatura do ar condicionado a pedidos coletivos. Hoje de manhã apareceu um boto preto (aqui chamado de Tucuxi). Dona Santana disse que devia haver muitas mulheres menstruadas no navio. Essa senhora é de Manaus e nem bem nos conheceu, já nos convidou para ficar na casa dela. Deu até o número do telefone. Quando nos viu, perguntou se éramos hippies por causa das mochilas. O estreito de Breves já ficou pra trás. Agora quase não se vê a margem, só esse oceano de rio que é o Amazonas.
Ei, eu vi um boto cor de rosa!
Não vi pulando na água, confesso, mas dando cambalhotas na superfície. Parecia uma língua molhada.
Tomamos café da manhã e almoçamos a mesma comida de ontem: arroz, feijão, macarrão e cozidão de carne. Esse barco merecia um filme. Êta Brazilzão sem prumo! A lua está linda de novo e nós cada vez mais dentro do dentro, rio acima. Hoje vi um bando de garças voando.
Três pessoas já me perguntaram por que passo o dia todo lendo, se estou na faculdade ou se estou escrevendo um livro...
Terminei Macunaíma, nosso herói. É genial! Desses livros que deixam saudades.

1 Comentários:

Blogger Cruizeiro Cruising disse...

Ola Tudo bem? Vi o seu blog e gostaria de saber mais informacoes sobre tarifas de passagem de navio de belem para breves, berves para santarem, santarem para boca da valeria etc. Teria como voce me ajudar?
Muito obrigado e no aguardo
bernardoporfirio@hotmail.com

5:04 PM  

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