Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

quarta-feira, junho 28, 2006

Dias 28, 29, 30.06.06 - S.Luis (MA)

Continuamos no Boi.

Na festa de S.Pedro, onde todos os Bois se encontram para dançar dentro da igreja, tivemos que acordar às 4 horas da manhã para ver a festa amanhecer (esse é um momento bem especial).

Impressiona a visão de cima. Tanto Boi, tanta gente.

Dá pra perceber que os brincantes já entraram noutro estado de consciência de tanto brincar, virar a noite e cachacear.

Os Bois estão há 15 dias nas ruas virando noites.

Curiosamente havia um hospital na frente da praça.

Dois Bois brincaram lá dentro.

A Ju que viu.

terça-feira, junho 27, 2006

27.06.06 - S.Luis (MA)

Não tenho conseguido escrever diariamente. Penso que isso acontece pela intensidade dessas festas. Mexe muito com o inconsciente, termino o dia exausta, durmo como pedra.

_ A gente não é pedra para viver parado! Como nos disse o dono do Circo Napolitano.

A festa das Caixeiras do Divino da casa Fanti-Ashanti tem explicitamente a dualidade do sagrado e profano. As caixas levam ao céu, ao recolhimento, à meditação.

Os tambores levam ao instinto, ao terreno, à loucura.

Muitas coisas ficam sem entendimento.

A festa oscila de um lugar para outro. As mulheres tocam caixas e os homens tambor. Às vezes elas não agüentam o tambor chamando, deixam as caixas de lado e vão dançar.

_ Baia, baia, baiôô...

Não deixam faltar o comer e o beber.

segunda-feira, junho 26, 2006

26.06.06 - Matinha (MA)

Fomos para a cidade de Matinha na região da Baixada Maranhense, no interior para participar do encontro de Bois de Pindaré (aqueles que tem a figura do Cazumba).

A cidadezinha embrenhada (4 horas de viagem) estava em festa, muitas barraquinhas de comida e bebida, muita gente e o som forte dos Bois espalhados na praça.

Imagine 16 Bois brincando ao mesmo tempo numa praça. Uma loucura!

O boi (aqui me refiro à figura do Boi e não à brincadeira como todo) da Baixada é maior de cara e de corpo , balança o corpo como se estivesse dando rabadas no chão com movimentos pesados.

Os homens que brincam no miolo do Boi saem com um olhar indescritível, alucinado, d’ outro mundo.

Eles brincam a noite toda sem cansar. É difícil acompanhar.

Na verdade não dá para ir num lugar desses e ficar assistindo apenas. Se você não brinca, não agüenta o tranco.

Para entender o Boi é preciso brincá-lo.

Boi amanhecendo na cidade de Matinha

domingo, junho 25, 2006

25.06.06 - S.Luis (MA)

Fomos no Tambor de Mina na casa da Turquia fundada em 23 de junho de 1889 por Anastácia Lucia dos Santos, hoje guiada por Pai Euclides. É uma casa simples, com chão de cimento queimado e janelas abertas, sem janelas. Penso como vou escrever isso? Gosto de deixar o espaço do papel em branco, assim lembro exatamente como me senti.

Os homens tocam, as mulheres dançam.

Algumas músicas não são em português.

Saias vermelhas e blusa branca com rendas e colares. Cada qual com sua cor.

Só acontece uma vez por ano nos dias 23, 24 e 25 de junho.

Tambor de Encantados, chamados também de Vodus.

terça-feira, junho 20, 2006

Dias 20, 21, 22, 23, 24.06.06 - S.Luis (MA)

Esses foram dias de Bois, de São João e de Tambores.

Para entender todas essas festas e o que significam é preciso participar e conviver com as pessoas que as fazem acontecer. A festa é a vida dessa gente.

Ali está sua identidade, sua diferença, sua expressão, sua fé, sua paixão.

As palavras fogem ao tentar descrever. Tudo fica confuso, embaralhado, denso, profano, sagrado, sujo, lindo, suado...ficamos embriagadas sem beber.

Fomos no batizado do Boi de Apolônio na sede do grupo.

Havia uma rezadeira e dois instrumentistas para as toadas: trompete e trombone.

Cantam músicas santas benzedeiras e todos ficam perto do altar onde o Boi está em primeiro lugar e é batizado por um casal (que normalmente ajudam financeiramente).

A cada ano trocam o couro do Boi. Todo ano um bordado diferente.

Batizado o Boi, os metais vão embora e dão lugar aos tambores e matracas.

A sede é um galpão de teto baixo cheio de bandeirinhas enfeitando, no altar, velas. Calor, muita gente.

Num momento a Matraca me ensurdece, o silêncio agudo me hipnotiza. Olho em volta, vejo a nobreza dessa gente, preciosos, majestosos. Reis e rainhas. Cantam de olhos fechados.

Alguns pagam promessas. Cada uma sabe da sua.

segunda-feira, junho 19, 2006

19.06.06 - S.Luis (MA)

Um jovem embriagado ouvia nossa conversa e nos interrompeu:

_ Ó eu estou ouvindo a conversa de vocês... tirando tudo isso aí ... o que é importante?

Ficamos mudos.

_ Quanto tempo dura o que é importante? Às vezes uma eternidade, às vezes um minuto.

domingo, junho 18, 2006

18.06.06 - S.Luis (MA)

“Se não existisse o sol,

Como seria pra terra se aquecer?

Se não existisse o mar,

Como seria pra natureza sobreviver?

E se não existisse o luar,

O homem viveria na escuridão,

Mas como existe tudo isso, meu povo

Eu vou guarnecê meu batalhão de novo.”

Guarnecer : amanhecer o dia brincando.

Boi amanhecendo na cidade de Matinha

sábado, junho 17, 2006

17.06.06 - S.Luis (MA)

Assisto uma roda de Capoeira Angola. Jogo malicioso, cheio de quedas sutis. Eis que de repente aparece uma figura de chapéu, faz sua oração no pé do berimbau e espera sua vez de entrar. O homem era um espanto, um palhaço, purinho da Silva.

Jogava de chapéu, gritava insinuando medo dos golpes, reagia exagerado como um cão que leva pauladas, brincava de mancar, triangulava com as pessoas que assistiam a roda, puxava a chamada de angola e, dá-lhe tiro certeiro no parceiro! Ria, divertia-se.

Ao mesmo tempo seu jogo era reto, duro, truncado. Era isso que o tornava tão engraçado. Cantava músicas inventadas na hora falando das pessoas presentes, incendiava o jogo com o coro:

_ Joga ele no chão...

Era uma capeta, um Arlequim, diabólico, engraçado, encantador.

Às vezes o palhaço está onde menos de espera...

Depois descobri que ele é Mestre. Só podia ser!

Seu nome: Assuélio.

Acompanhamos o Boi de Seu Apolônio (que tem 86 anos) desde a sede no bairro de Liberdade até a praça onde iam brincar.

Tomamos cerveja no bar do Juarez com Abel, fazedor de Caretas, sua esposa, Rosalindo e Parrachá, que quando chegou cumprimentou Juliana dizendo: _ Como vai, minha branca? Ele tem 16 filhos , mas mora sozinho com uma jibóia!

Rosalino nos apresentou a sede do grupo e na hora de oferecer a janta, foi logo se desculpando, um pouco tímido, dizendo que a comida era simples. A neta de S. Apolônio nessa hora interrompeu forte: _ É cozido de carne com farinha. Pare de enrrolar, Rosalino!

Um senhor me deu lugar para sentar, eu agradeci e ele: _Não, foi de coração.

...foi bom conhecê-los antes da brincada. A brincadeira fica mais bonita.

Participamos e dançamos um bocado.

sexta-feira, junho 16, 2006

16.06.06 - S. Luis (MA)

Existem diversos sotaques de Bois: os de Zabumba, de Matraca, de Orquestra, de Costa de Mão, de Pindaré... da região da Baixada, da Ilha... é uma riqueza!

A diferença entre eles é grande. São ritmos diferentes.

Os Bois da Baixada são os únicos que têm a figura dos Cazumbas - personagem mascarado cômico e mitológico que faz feitiçaria para esconder o boi.

São também chamados de Caretas.

“Meu Cazumbá

Levanta o meu boi

Assusta a tristeza

O povo quer se alegrar”

Assistimos o Tambor de Crioula do Mestre Apolônio, o Boi de Santa Fé, Boi de Ilha, Boi Encantado, Boi de Axixá, Boi de Pindaré.

A festa do Boi é assim mesmo: a gente sai de casa e vai de arraial em arraial atrás dos Bois preferidos.

E tudo é tão rico e bonito: as roupas, os bordados, o povo dançando, cantando junto, o tambor onça que vai chamando para o ritmo primitivo, como um coração batendo, dando o pulso da brincadeira...

Alguns detalhes bonitos da festa:

O irmão do Rosalindo está operado e o médico proibiu de brincar o Boi neste ano. Ele foi assistir. O boi chamava e ele não podia.

Uma criança Cazumbazinha com máscara Bico de Pato-Dragão brinca o Boi e a mãe vai atrás orgulhosa, arrumando a roupa, cuidando para aparecer o bordado.

Uma menino de 5 anos, filho de família evangélica, ouvia o Boi e ficava tomado pela brincadeira. Começou a fugir de casa para brincar. A esposa de Seu Apolônio foi falar com a mãe do menino para ela deixar. Ela deixou.

quinta-feira, junho 15, 2006

15.06.06 - S. Luis (MA)

Chegamos em S.Luis em pleno São João.

Viemos conhecer o Bumba-Boi.

A cidade está em festa e ficará assim por 15 dias.

Em cada bairro há um arraial montado pela comunidade, geralmente na frente da casa do mestre ou padrinho do Boi.

Capricham e muito nos enfeites. As mulheres fazem bolo de tapioca, macacheira, torta de caranguejo, camarão, arroz de cuchá, carne seca...

Tudo acontece na rua. O boi brinca e o povo brinca no meio, junto.

Há também os arraiais que são patrocinados e viram verdadeiros eventos, com palco separando boi e público, logomarca de empresas, variedade e concorrência de barraquinhas de comida.

quarta-feira, junho 14, 2006

14.06.06 - S. Bernardo (MA)

Estamos à caminho de S. Luis.

Paramos para dormir.

A estrada estava péssima: só buraco.

sábado, junho 10, 2006

10.06.06 - Fortaleza (CE)

Imagine uma feira livre, com barracas expondo mercadorias, gente nas ruas andando de um lado para o outro, de 20 em 20 segundos pessoas te oferecem artefatos vindos de todas as partes, crianças pedindo dinheiro, aleijados pedindo esmolas com frases _ Ajude um velho cego, Deus lhe dará em dobro. Mulheres prostituindo, religiosos aos cânticos explanando sobre Deus e no meio disso tudo, o palhaço por ofício, passando sua capanga surrada em troca do que comer e dar de comer à família.

Era exatamente assim que estava a beira da praia de Fortaleza: medieval.

...

É preciso dizer que meus sentimentos estão à flor da pele, uma vez que nesse caminho, nessa viagem, os espaços públicos viraram a nossa casa, e as pessoas com suas histórias, nosso maior interesse. As coisas nos afetam profundamente.

Acabamos de chegar do sertão onde se vive como antigamente, na forma, nos hábitos e nas relações. A troca é fundamental e necessária. Tanto a troca emocional como a da manutenção mesmo. Comer, dormir, contribuir, acrescentar, aprender, ouvir, contar, conversar... é vital.

Chegar na cidade grande é um choque difícil.

Assistimos o trabalho do palhaço Coloral (que antes era escrito com U e agora é com L - porque com U é colorau de panela).

Trabalha com um parceiro mestre de pista: Neorlandio.

Pinta o rosto com tinta acrílica porque todas as outras escorrem junto com o suor. _ Essa é a única que firma.

Delimitam a roda jogando água no chão, formando um círculo.

Ele é bom, engraçado, faz roda, junta gente, o povo ri, eu rio, ele ri.

Um momento curioso foi quando um rapaz deficiente físico passou no meio da roda. Ele andava meio arrastado no chão, entortando para um lado e outro .

Coloral rapidamente fez a piada dizendo que o mar tinha virado sertão e que esse caranguejo havia perdido o rumo de casa.

O público riu.

Eu acompanhei com olhos o homem-caranguejo para ver sua reação.

Ele esperava, sorrindo.

Num momento seguinte, quando o foco da roda estava noutro lugar, Coloral foi cumprimentá-lo. Eram amigos.

Mais tarde Coloral me explicou: _ Sempre que ele está por perto e eu estou trabalhando, ele passa para me ajudar com a piada.

... Sobrevivências.

sexta-feira, junho 09, 2006

09.06.06 - Aracati (CE)

Ontem à noite D. Ivanize se vestiu com uma capa e máscara macabra do Mister M para nos assustar! Assustou primeiro Juliana, depois eu. Parecia criança. Disse que o susto foi tão grande que ela não via as rodas pretas dos nossos olhos!
A despedida da família Ponciano foi dura.
D. Ivanize Ponciano chorou igual criança. Nos abençoou com todos os santos. Chorei também.
Marciano disse que os bons ventos de Aracati nos trará de volta.
Tomara que sim.
Viajamos até Fortaleza, a estrada estava péssima.
Paramos em Canoa Quebrada para um banho de mar.
Fortaleza, cidade grande, preços altos.
É desconfortante pagar tão caro para comer, depois de passar pelo Sertão onde a comida é farta e barata.
Chegamos e fomos direto para a praça onde o Colorau se apresenta. Ele não foi hoje.
Um rapaz nos deu seu telefone, ligamos e marcamos de encontrá-lo amanhã.

quinta-feira, junho 08, 2006

08.06.06 - Aracati (CE)
Fomos para a roça.
Município de Jirau. Entranhado, como dizem por aqui. Estrada de terra chamam de carroçal.
A casa era de Zé Mane, pai de Beto Lins e de Fransquinha.
Fransquinha vem de Franscisquinha mesmo, mas na forma corrida de falar sumiu a sílaba CI, acarinhando ainda mais o apelido.
Zé Mane é um roceiro por amor e profissão.Bota sozinho um roçado de perder de vista. É matuto, troncudo, forte. Tem 66 anos.
Numa conversa primeira sobre como andavam as chuvas, ele disse:
_ A chuva neste ano começou no dia de S.José e foi juntando os bigodes, choveu até o dia de Sto Antonio, depois até S. João...e continua chovendo até hoje.
Disse que o boi dele só não fala pra não dar recado, que se não coloca comida, o boi segue ele o dia inteiro, mugindo.
Passamos o dia todo lá. Fizemos pamonha, colhemos o milho, limpamos os cabelos, D. Fransquinha ralou tudo, por hábito, como ela diz, fizemos as trouxinhas, e cozinhamos em fogão de lenha. Depois debulhamos o feijão para o almoço.
Ouvimos Luiz Gonzaga, que em situações como esta, faz todo o sentido. Juliana andou de perna de pau.
Descobri que Buriti aqui chama-se Carnaúba.

quarta-feira, junho 07, 2006

07.06.06 - Aracati (CE)

Acordamos e fomos para o Sesc-Ler, fazer uma intervenção com os alunos. Foi divertido, havia 50 crianças, fomo de Kombi, já vestidas.
Marciano nos mostrou um disco de uma dupla muito popular no rádio na década de 50. Ludogero e Atropi. Uma dupla de primeiríssima! Humor puro, antigo. Lembrei da minha avó Diva quando conta suas piadas.
Gravamos programa de TV e rádio para divulgar o espetáculo. Edivan (cunhado de Marciano) nos acompanhou em tudo.
No programa da TV Comunitária – TV Sinal. Levamos a Firula dizendo que ela fazia parte do grupo. O jornalista (Tácito Forte) entendeu que ela fazia parte do espetáculo e disse isso no ar. Pronto! Ela ficou famosa! Quando saímos na rua, todos perguntavam se ela era a cachorrinha da TV.
Ele ficou surpreso com o fato de estarmos realizando esse projeto sem apoio financeiro, sendo que somos da cidade onde mais rola dinheiro no país...
Na rádio, o entrevistador chamava-se Bilau e nos fez perguntas interessantes. Perguntou sobre a palhaça, coisa rara de se ver. Perguntou o quê um palhaço faz, por quê estávamos ali...
Apresentamos no Teatro às 20:00hs. Havia 70 pessoas.
No debate posterior as pessoas tiveram muita curiosidade de saber sobre a viagem, sobre o que nossa família achava, perguntaram sobre usar ou não o nariz de palhaço, perguntaram o que é ser palhaço, e por último: _Cadê a Firula que não entrou em cena?
Marciano nos deu ótimas contribuições para a cena do “Lá.
Ele sabe que estamos trabalhando nela. Conversamos um bocado.

terça-feira, junho 06, 2006

06.06.06 - Aracati (CE)

Fomos para a praia de Quixaba. Conhecemos Beto Lins, cuja família mora na roça e fabrica farinha. Combinamos de ir lá na quinta feira.
Almoçamos carne de raia e logo depois senti dor na barriga. Um farmacêutico ensinou para o Marciano, que me ensinou: tomar meio copo de água com uma colher de chá de vinagre.
Melhorei na hora.
Vimos o pôr do sol no rio Jaguaribe. Nadamos à noitinha.
Dia feito pra lavar tudo que vai restando.
Estudei trompete na calçada e Adriano, outro irmão de Marciano que é maestro escreveu a partitura de 3 músicas que eu queria aprender.

segunda-feira, junho 05, 2006



05.06.06 - Aracati (CE)

Aracati é um vento que chega de tardezinha. As pessoas vão para a calçada esperá-lo.
Visitamos Mestre Hélio, bonequeiro, cujo ateliê fica no teatro Francisca Clotilde, onde vamos nos apresentar.
O homem é impressionante. Faz de tudo: boneco mamulengo, cabeçudo, gigante, articulados, bonecos que requebram, restaura coisas, faz miniaturas, altares.
O trabalho é muito, o dinheiro, pouco.
Têm alguns espetáculos com os bonecos. Vi fotos da Paixão de Cristo e Branca de Neve, cujo momento mais esperado pela platéia, segundo ele, é quando aparece o espelho. Ele inventou um modo de fazer fumaça com um cachimbo soprado ao contrário, assim a fumaça fica direcionada e não se espalha, aparece como um jato.
Hélio teve essa idéia quando foi num ritual de Candomblé e viu o caboclo com o cachimbo.
Como aqui não tem recursos para maquinários, a criatividade transborda.
Passamos o dia inteiro conversando coisas sobre teatro, vida, histórias. Nos contaram sobre o Teatro que já foi um cinema um dia com projetor movido à carvão, sobre o prefeito que só dá gafe e já foi até no Jô Soares.
Prefeito: _ Com a minha fé e as fezes de vocês...
No final da conversa, Marciano soltou uma frase graciosa: _ É tão monótona estrada reta.
À noite ficamos com bobeira de tanto rir com a D. Ivanize, que entrava na conversa abrindo novas conversas que nunca se concluíam. Cada hora ela vinha com uma coisa: fotos, músicas, piadas, trazia um boneco e ficava manipulando só pra fazer rir... e fazia.

domingo, junho 04, 2006

04.06.06 - Aracati (CE)

Acordamos ainda em Nova Olinda. Sonhei com o circo Zanni, que uma mulher tinha virado picolé de saquinho.
No caminho para Aracati a estrada estava bem esburacada, muitos caminhões. Juliana dirigiu quase o dia todo e eu à noite.
Durante duas horas viemos acompanhadas da Chapada de Agapi, (divisa com o RN) bonita como uma coluna vertebral, imponente, delimitando.
Vi uma paisagem inesquecível: um lago cheio de Buritis. Uns 200 Buriris, todos juntos formando uma parede que nascia da própria água do lago. Foi de encher os olhos d´agua e a mente de literaturas. Naquele momento eu quis que algumas pessoas estivessem vendo aquilo comigo.
Desci para filmar o lugar.
Era um silêncio com canto de pássaros.
Muitos cantos variados. As aves, mesmo quando cantam, ou gritam, não interrompem o silêncio! Elas fazem o silêncio mais silencioso ainda.
Chegamos em Aracati e fomos recebidas por Marciano e sua família que foram nos buscar em frente à rodoviária.
Marciano é um sujeito muito simpático, engajado, que ama seu lugar. Um apaixonado pela arte, um artista que se dedica ao teatro na sua cidade com todas as dificuldades que isso implica.
Ser artista no Nordeste é ser guerreiro, uma verdadeira batalha.
O grupo de Marciano – Centro Cultural Lua Cheia – já recebeu muitos artistas: primeiro o Valdo Mattos, depois o Simione do Lume, a Adelvane Néia, o Barracão, os Kapota mas não Breca, e agora, Las Cabaças.
Vamos apresentar nosso espetáculo e depois participar de um debate com a platéia.
A idéia do grupo é fortalecer isso que chamamos de trocas artísticas.
Não paro de me emocionar com a hospitalidade dessa gente, que abre a casa e acolhe igual filho. Dispões de tudo do bom e do melhor para as visitas.
D. Ivanize, a mãe de Marciano acaba de entrar aqui no quarto com uma infusão de água com óleo de hortelã . Eu perguntei pra quê era e ela disse: _ É pra fazer bem, cheire.

sábado, junho 03, 2006

03.06.06 - Nova Olinda (CE)

7:30 da manhã e todas as crianças já estavam no camarim, maquiando-se e vestindo-se para o exercício de se apresentar em público.
Estavam empolgados, felizes da vida, vestidos de palhaço. Teve um menino, o Pirulito, que ficou tão feliz de usar a camisa nova! A alegria dele era de Domingo em pela sexta-feira.
Apresentamos com as crianças ás 9:00hs e nosso espetáculo às 19:00hs.
Na platéia conhecíamos quase todo mundo. Dava pra chamar pelo nome. Fizemos a cena do “Lá” com prólogo fora do teatro (esta é uma cena que ainda está em construção e um dos objetivos da viagem é desenvolvê-la).
Eu nunca pensei que as pessoas fossem gargalhar nessa cena e foi o que aconteceu: eles riam tanto das perguntas absurdas.
O menininho (Raimundo de 6 anos)que levantou a mão para participar da cena da pulga era uma obrinha de arte, só poesia. Ele olhava para os dedos tentando ver a pulga.
Foi uma noite especial, estávamos inspiradas e o espetáculo estava aberto. Lembrei do Bispo de João Miguel.

sexta-feira, junho 02, 2006

02.06.06 - Nova Olinda (CE)

Oficina. Exercícios de triangulação, claques, tropeções, livros de palhaços, filmes.
Esses estão sendo dias calmos, aproveitamos para descansar, lavar roupas, ensaiar, assistir filmes (eles têm uma videoteca fantástica aqui, com filmes que não se encontra nem em SP).
Conhecemos Expedito Seleiro, famoso pelos sapatos que faz em couro trabalhado. A tradição com o couro vêm desde seu tataravô que fazia selas, mas com o progresso, vieram as bicicletas, depois as motos e, sela mesmo ficou difícil de vender.
S. Expedito sempre resistiu em fazer sapatos para as mulheres porque são muito exigentes e sempre querem novidades. A grande maioria da freguesia hoje é mulher.
S. Expedito é um artista e tanto. É como se ele bordasse o couro. Tem hoje 13 pessoas que trabalham com ele, incluindo os filhos. Nós levamos nossos sapatos de palhaças para ele ver e dar idéias. Eu mesma já encomendei um outro mais leve que esse que tenho.
Ele vai fazer e colocar no correio.

quinta-feira, junho 01, 2006

01.06.06 – Nova Olinda (CE)
Acordar na Casa Grande é bom demais. Muitos pássaros, o sol que vai chegando, e o silêncio que vai logo dando lugar à molecada que vem brincar. O dia começa bem cedo. Às 7:00hs a rádio já está no ar, e na sala de vídeo um menino assiste um festival de Jazz em Montreux e outro edita um curta metragem. A Casa é toda organizada e administrada pelos jovens que têm no máximo 23 anos sob orientação de Alemberg. É um centro de arte e educação. Têm um museu que conta a história do homem-cariri, um grande resgate aos que vieram antes deles.