Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

terça-feira, outubro 31, 2006

Dia 31/10/06 – Navio rumo a Belém (PA)
Chegamos em Belém, Marina foi nos buscar. Firula foi correndo, reconhecendo o carro.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Dia 30/10/06 – Barco rumo a Belém (PA)
Estou aqui deitada na rede, descendo o rio Amazonas de águas barrentas. Às 11 horas paramos em Gurupá, parada rápida na qual entraram grandes pedaços de carne, carregadas por dois homens. O sangue da carne escorria por todo o piso, inclusive ao lado da minha rede. Amarrei a Firula próxima da minha rede.
O moço da cozinha deu um prato de carne com macarrão pra ela, que devorou. As pessoas adoram a Firulinha. Esse navio é bem menor e achei mais aconchegante, a tripulação é mais simpática. Paramos em Monte Alegre e fui dar uma volta com a pequena preta. Tomei suco de cupuaçu. Firula cheirou pretinho, cachorro dos carregadores. À noite subi para ver a lua, as estrelas, sentir o vento e assistir um pouco de TV. Vi o jornal e só hoje fiquei sabendo que o Lula foi reeleito.

domingo, outubro 29, 2006

Dia 29/10/06 – Belém (PA)
Tomamos um ligeiro café com pão do Vini, justificamos o voto com Rafael e Magnólio, levamos a Juliana para as Docas às 10:00hs, que segue para Belém de barco com a Firula. Mas o barco só sai mesmo ao meio-dia. Enquanto isso ela vai fazendo, como diria Magnólio, contato imediato com a rede ao lado. Eu sigo de avião. Olho Santarém de cima. Nuvens, mata, água. Tanta água que encobre a terra! Sinto uma leveza no peito. As águas me lavaram? Me levaram? É difícil despedir. Sempre sofro nesta hora. Viajar não é fácil. É preciso madureza. É preciso firmeza.
-marina quinan-

Deixaram-me nas Docas (Eu, Firula e mochila), despedi-me da Marina. Ela vai por cima e eu por baixo. Fui atar minha rede, olhei para os lados, escolhi o melhor lugar para ficar. Atar rede é sempre uma coisa complicada pra mim. Fiquei quase dois meses aqui e não aprendi o nó que, aliás, D. Ivanize me ensinou lá no Ceará. Esse nó seria do meu jeito mesmo, o nó que aprendi e sempre uso. Nó de amarrar tênis, de enrolar cabelo. Subi num banquinho e, como se fosse grande entendida de nós, me pus a fazê-los com toda convicção. Um paraense que estava ao lado olhou com desconfiança. Eu disse:
_ Não tá botando fé nesse nó?
_ Vai cair.

E eu então, com toda a vontade de fazer meu nó dar certo, dei o mesmo repetidas vezes no mesmo ponto. Puxei a rede para ver sua firmeza. O paraense olhou e disse:
_ Agora botei fé, mas o difícil vai ser desatar esse nó.
_ Nisso eu pensarei só daqui a 2 dias.

Ele riu.
-juliana balsalobre-

sábado, outubro 28, 2006


Bifi e Quinan em Semi-Breve

28/10/06 – Santarém (PA)
Voltamos a Santarém para nossa apresentação no Festival de Teatro que foi uma maravilha. Fazia muito que não trabalhávamos no palco, com silêncios, pausas e iluminação. A casa estava cheia e a lotação era de 400 lugares. Conhecemos o palhaço Pimentinha, pai da Elis. Cara de palhaço, pinta de palhaço. Ele disse que gostou do número do Soldado. Despedimo-nos de Gorda e Felipe e esperamos revê-los em breve.

sexta-feira, outubro 27, 2006

27/10/06 – Alter do Chão (PA)
Onde estávamos? Onde estamos?
“No meio do caminho tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra,
no meio do caminho tinha uma pedra.
nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”
(Drummond)

quinta-feira, outubro 26, 2006

Dia 26/10/06 – Alter do Chão (PA)
Enquanto Maria cortava a mangueira morta no inverno, ouvi seu filho reclamar de um galho que bateu em seu nariz. Ela olhou e disse:
_ Ah, rapaz. Isso é marca de trabalhador!
Tomamos café e saímos para conhecer a mata detrás da casa. Fomos levadas pelas crianças. Vimos duas preguiças.
Comemos a merenda feita por Leni para que não sentíssemos fome na viagem de volta, despedimo-nos e entramos no barco.
Entrou uma mulher que foi picada por cobra. Já é a quinta vez que ela é picada no mesmo lugar da mão. Ela estava na cozinha fazendo janta. A cobra estava escondida. Agora ela segue no barco conosco, entrou andando e está deitada na rede, seus olhos estão roxos. A mãe dá leite com sal pra ela beber. Chegamos em Santarém e seguimos para Alter de carona com Ricardo.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Dia 25/10/06 – Aritapera (PA)
Estamos na terra das cuieiras e das cuias. Aqui tem pé de cuia a cada 5 metros. Conhecemos a oficina das artesãs: cortam a cuia com o tesado, limpam com escama de pirarucu por dentro e por fora, lixam com folha de embaúba; depois de seca passam cumatê (casca da árvore axuá), colocam na cinza, espalham urina para que o “hormônio” fixe a cor e novamente passam o cumatê para lustrar.
Depois desenham, fazem furos, inventam artefatos.
Passamos na escola e marcamos apresentação para as 16:00hs. Todos foram convidados.
Voltamos para almoçar com a família cujo filho caçula é o surdo-mudo mais falante que já conhecemos. Ele gesticula contando todas as peripécias sobre caçadas e jacarés. O nome dele é Airton, o pai chama-se Sena.
A apresentação foi boa. Havia umas 150 pessoas. Uma mulher disse que tínhamos jeito de artistas, de atoras.
Jantamos sopa e fomos dormir às 20:30, todos exaustos. Minha rede estava armada em frente à janela, que fiz questão de deixar aberta só para olhar o céu estrelado de vez em quando. Entresonhos.

terça-feira, outubro 24, 2006

24/10/06 – Aritapera (PA)
Arrumamos as malas, fomos para Santarém, deixamos a Firula, tomamos açaí com Rafael, fizemos compras de alimentos para levar a Aritapera (comunidade de seu Miguel que não pôde vir e por isso vamos de barco de linha). Subindo o rio Amazonas a água é barrenta, vimos muitas garças, botos e peixes pulantes. O barco entra num estreito canal até chegar ao igarapé. Aritapera é uma comunidade grande, com 150 famílias, ela é inteira de comprido, todas as casas ficam na margem numa extensão de 5 km. Esta é uma região de várzea que fica 6 meses alagada e 6 meses seca. Tudo é construído suspenso: a casa palafita, o galinheiro, o banheiro. Ficamos hospedadas na casa de Sena e Leni, onde também moram seus 3 filhos e 1 sobrinho. Tomamos banho de cuia no rio à noite. Ouvíamos barulho de peixes pulando até que Leni iluminou com lanterna o rio e vimos dois olhinhos vermelhos. Era um jacaré. Depois outro. Depois outro.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Vista de cima do morro da piroca

23/10/06 – Alter do Chão (PA)

domingo, outubro 22, 2006

Dia 22/10/06 – Alter do Chão (PA)
Fomos ver os peixes-boi no CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros).
O filhote é filhote mesmo. Os dois mais velhos subiram para nos conhecer. A terceira nem dá bola. O mais figura do lugar é o veterinário chamado Jairo.
_ Eu passei aqui para dizer que não estarei lá.
_ Então, boa viagem.
_ Boa viagem não, pois eu vou lá e volto.
_ Boa ida.
_ E a boa volta?
_ Está bem, boa volta.

sábado, outubro 21, 2006

Dia 21/10/06 – Alter da Chão (PA)
Quase virei carne de urubu!
Não sei se é porque fiquei deitada na areia da praia... talvez pensaram que eu era carniça. Levantei assustada mostrando que eu estava vivinha.
Olhar a natureza, o natural
É um convite ao silêncio.
É importante calar,
Chegar até o começo da palavra,
Quando ela nasce.
Uma palavra nasce de um profundo silêncio.
É o silêncio que cria palavras.
Casualidade
Causalidade
Causoalidade
Elas estão nascendo agora,
Por isso o deserto.
Nele, tudo aparece e cria forma.
Existe o estado estético?
Alô? Tem alguém aí?
Eu gosto das coisas só no comecinho delas.
O urubu riu de mim enquanto eu pensava se árvore era macho.
Se for macho, virará árvoro.
-marina quinan-

sexta-feira, outubro 20, 2006


Dia 20/10/06 – Alter do Chão (PA)
Hoje é realmente isso?
O cardápio do dia:
Ir à praia só, deixar o livro cair no rio, tropeçar em toco de chão, ver um cão quase morrer.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Dia 19/10/06 – Alter do Chão (PA)
Apresentamos às 17:30 na praça. Foi bem esquisito, o tempo fechou, ameaçou chover, tivemos que mudar de lugar, deslocar o público para o espaço cultural Puxirun, no final das contas não choveu. Nós ficamos no vai e não vai, mas fomos.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Dia 18/10/06 – Alter do Chão (PA)
Hoje de madrugada choveu uma chuva grossa, molhou tudo. Dormi na varanda da casa que é uma beleza. Não teve goteira na minha rede, nem precisei levantar, fiquei só olhando a chuva. E para minha surpresa e alegria continua chovendo até agora (são 10:30hs). Se vocês soubessem a felicidade que dá um dia de chuva na Amazônia!... De tarde fomos na rádio divulgar nossa apresentação de amanhã.

terça-feira, outubro 17, 2006

Dia 17/10/06 – Alter do Chão (PA)
Fomos para Alter do Chão que é praticamente o paraíso na terra. Ficamos hospedadas na casa das professoras, onde moram Chantal, Fernanda e Diana. Comemos bolinho de piracuí feito com farinha de peixe. Delicioso.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Dia 16/10/06 – Santarém (PA)
Esse telefone está igual pai de santo: só recebe.
“Muita saúva e pouca saúde – os males do Brasil são”
(Mário de Andrade)

domingo, outubro 15, 2006

Dia 15/10/06 – Abaré (PA)
Antes de tomar café fomos com Fábio (médico) e Fernanda (dentista) caminhar na praia cheia de lagos. Tomamos café e conhecemos a comunidade de Jaguarari. Conhecemos dona Algarina que é puxadora e alinha a mãe do corpo. Mas isso só pode ser feito em jejum. Sua mãe era parteira, mas ela não quis seguir, pois achava que não tinha jeito pra isso. Andamos com ela, suas duas filhas e sua neta de cabelos lisinhos e jeitinho de simsimsim até o igarapé de águas geladas. Comemos duas frutas de nomes meri e piranga, uma preta e a outra amarela. Na volta vimos uma cobra preta e amarela de nome cutibóia. No começo foi um grande susto, mas ela passou tranqüilamente e subiu na árvore. Depois do almoço fizemos uma entrada no Abaré. Conhecemos o famoso Polaco, um rio grandense que mora na Amazônia há mais de trinta anos:
_ Como vai seu Polaco?
_ Eu vou bem, só não vou melhor porque não quero.

Bem, chegamos no final da primeira viagem do Abaré que em 13 dias atendeu 571 pessoas. Haviam 2 médicos (Fábio e Rafael), 1 dentista (Fernanda), 1 auxiliar de dentista (Lucineide), 1 recepcionista (Marisa), 1 laboratorista (Antonio), 2 enfermeiros (Julia e Reidevandro), 1 auxiliar de enfermagem (Aksa), 2 comandantes (Miguel e Pedro), 3 marinheiros (Riomar, Tapajós e Rosivaldo), 2 cozinheiras (Valkiria e Iraci) e 2 palhaças (Bifi e Quinan).

sábado, outubro 14, 2006

Alter do Chão

Dia 14/10/06 – Abaré (PA)
Numa conversa:
Bifi: _ Eu queria tanto ver uma onça nesses matos.
Quinan: _ Pois eu não. Eu só gosto de saber que ela existe.

Uma menina pergunta:
_ Como se chama o nome de você?

sexta-feira, outubro 13, 2006

Dia 13/10/06 – Abaré (PA)
Voltamos para o Abaré junto com a nova medicação solicitada. Fomos numa L200 (não me perguntem mo que isso significa, só sei que tinha 4 rodas). Nós, Sassá e o motorista. Demos carona para um homem que andava só de cueca. Vestiu a bermuda e entrou. Ele disse que força de vontade e saudade faz um homem entrar n’água até meia noite. Encontramos o Abaré atracado depois de Piquiatuba.
Fizemos uma piracaia na praia. S. Miguel disse:
_ O peixe-boi, quando pega na malhadeira, o pescador tenta tirá-lo, mas aí o bicho já está magoado, então aproveitam da carne.
Pedrinho disse que quem rouba melancia perde o cabelo. Perguntou à S. Miguel (que é careca) se ele havia roubado muita melancia.
Risada de todos.

quinta-feira, outubro 12, 2006

feliz dia das crianças!

Dia 12/10/06 – Abaré (PA)
Acordamos atracadas em Marai. Marina sai para uma experimentação e eu filmo.
Diferente de ontem, chegamos na comunidade deserta de pessoas.
Marina se relaciona com uma família através de palavras e da bolinha.Dois meninos que estavam presentes não agüentavam de tanto rir das firulagens de Quinan. Jogavam o corpo ao chão para se deliciar mais. Quinan continua sua intervenção no barco-hospital, muitas imagens com a bolinha, as pessoas estão muito atentas. A bolinha ganha vida, é um trabalho sutil e delicado, extremamente encantador. Quinan e a bolinha saem de cena. Algo aconteceu ali.
Depois do almoço recebemos a notícia de que nos levariam para Belterra (município próximo de Santarém), para uma apresentação do dia das crianças. Isso já estava mais ou menos acertado com o Magnólio. Dá-se então, uma sucessão de fatos e aventuras: Dois caminhoneiros nos esperavam em Marai para levar-nos até São Jorge, onde uma Kombi da prefeitura de Belterra nos esperava. O caminhão parava toda hora com ar na bomba de gasolina. Era preciso parar, abrir o capô e bombear. Sempre pegava, mas numa subida o bicho empacou de vez. Primeiro pela bomba e segundo porque tinham deixado um monte de terra na estrada, pois uma patrola fazia a manutenção.Esperamos a patrola voltar, mas no meio da operação ela também quebrou. Ficamos sem saber o que fazer, não sabíamos nem a hora da apresentação. Optamos então por pegar uma carona até S. Jorge para encontrar a Kombi. E foi o que fizemos, mas qual Kombi que nada! Não tinha ninguém nos esperando. Nossa única opção era então continuar com a carona até Belterra direto para o evento. E lá chegando:
_ O circo Mocorongo? Foi cancelado de tarde.
_ O Mognólio? Não veio pra cá.
Bem, seguimos com nossa gentil carona (seu Chico) até Santarém e, chegando na casa de Magnólio descobrimos que ele estava em São Luis do Maranhão.
Ninguém sabia o que tinha acontecido e nem o que havia sido combinado.
Feliz dia das crianças!

quarta-feira, outubro 11, 2006

Dia 11/10/06 – Abaré (PA)
Acordei quase chegando em Tauari. A mata ficou tão bonita, com margens estreitas e o vermelhão lançando o dia. O Abaré vai chegando, buzinando, e daqui avistamos as pessoas vindo ver, se juntando, crianças no colo, muitos já esperam o tão falado barco-hospital. Os comunitários participaram da escolha pelo nome do barco que significa: amigo, cuidador. Atracamos na praia e descemos pra conhecer a comunidade e caminhar um pouco. Conversamos daqui, dali, telefonei do orelhão que funcionava bem. Fizemos uma intervenção na sala de espera. Havia uma mulher muito participativa e outra bem braba que começou a bater no marido porque ele estava rindo.
De tarde Rafael (médico) foi visitar uma paciente tetraplégica em Nazaré – 1 hora de caminhada mata adentro. Juliana foi de palhaça para uma experimentação individual e eu fui filmando. A intervenção começou timidamente, as pessoas olhando de longe, achando que ela era louca. Aos poucos foi crescendo, era de tarde, a aula na escola acabou e todos saíram para ver aquele corpo estranho, louco, de ponta cabeça na comunidade. A intervenção foi espetacular. Tudo registrado, imagens belíssimas, principalmente da hora em que ela foi visitar Marilda, a menina tetraplégica e todas as crianças foram junto. Inesquecível. Donde se tira a conclusão da potência do palhaço que entra, sem avisar, num lugar como esse.

terça-feira, outubro 10, 2006

Dia 10/10/06 – Abaré (PA)
Paramos em Taquara, comunidade indígena. No café da manhã todos no barco contavam muitas estórias sobre essa comunidade, que eles não gostavam do PSA, que eram muito brabos... Tivemos que pedir permissão para ir de palhaças e fomos, com hora marcada. Diferente do que disseram, foram bem receptivos. Chegamos aos poucos, tateando. Corpo vivo, gestos fortes. Passamos na escola, na igreja, ambas fechadas. Dois senhores nos convidaram para sentar e conversar. Um era Antônio que quis saber de onde viemos e qual era nossa estória. Foi uma bela pergunta para nosoutras. Ficamos ali por algum tempo numa conversa absurda e poética. Ele ia entendendo aos poucos nossa alma itinerante, nossa estória e nossas palhaçadas. As crianças em volta acompanhavam tudo sem piscar. Até que surgiu a bola, nosso elemento guia, que cria vida, nos leva e traz, cria dúvida do caminho a seguir, conversa com movimentos e encanta as crianças. Terminamos com um pelotão de crianças bradando: Branca, Branca,Branca, Leon, Leon, Leon.
Partimos às 12:30hs e chegamos em Pini às 13:30hs. Pini tem 26 famílias e uma marta fechada. Só descemos no fim do dia por causa do calor. Conhecemos Adriane, uma menininha de 3 anos, cabelo lisinho, pele morena, uma indiazinha, espiruleta, sapeca. E, como a voadeira só veio nos buscar de noite, ela achou que íamos dormir com ela, que quis saber se sabíamos fazer café, biju, pipoca... ia perguntando.
_ Como você dorme?
Bifi mostrou e ela colocava a cabecinha em seu colo, dormindo também. Linda, linda! Na hora de irmos embora, ela abraçou forte.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Dia 09/10/06 – Abaré (PA)
Comunidade de Prainha. População: 38 famílias. Ficaremos aqui até o fim do dia. Descemos para conhecer as pessoas, aqui tem orelhão, igreja evangélica, igreja católica, muitos pés de fruta (abacate, carambola, caju, manga, urucum, jambo, caju), uma beleza. Tem um pássaro preto com bico vermelho chamado de bico de brasa. A aula na escola acabara e as crianças estavam na frente conversando, pegando fruta do pé, brincando. Fiquei junto. Érica, uma menininha me levou para conhecer sua casa e o tracajá que seu pai havia pego. Tracajá é uma tartaruga grande muito comida nessa região, apesar de ser proibido. Dizem que a carne é uma delícia. Passeamos por dentro da mata, passamos por um igarapé onde mulheres lavavam roupa embaixo de uma ponte de madeira. Passamos por um campo de futebol e muitos pés de cajus. Comemos. Érica tem 10 anos e me fazia muitas perguntas:
Tem filho? Não encontrou marido? Onde você mora? Quando você fica longe de sua mãe, você não chora? Não sente medo? Você está de pecinha pra banhar?
Quem cuida dela é sua avó que ela chama “pra mãe”.
Apresentamos o Semi-Breve debaixo da mangueira no fim de tarde. Uma manga caiu do lado de Quinan. Quase caiu na cabeça. Nos divertimos com o final, quando o navio buzinou. Esse foi o fim. Entramos no barco que partiu. Crianças acenam e ficam. E nós, continuamos indo pra Lá.

domingo, outubro 08, 2006


Feitosa e Juliana

Dia 08/10/06 – Abaré (PA)
Me perdi, não sei que dia é hoje. Vou verificar e retorno.
De manhã descemos na comunidade de Paraíso que tem 9 famílias. Subimos o barranco e demos de cara com um macaco guariba se espreguiçando no chão. Ele era manso. A gente fazia cafuné e ele fechava os olhinhos. Subia na gente, enrolava o rabo, puxava o nariz... adoramos o Feitosa! Esse era seu nome.
Seguimos para Itapaiuna, mas não descemos por causa do calor e cansaço e pela dinâmica do barco mesmo, que às vezes limita nossas possibilidades de trabalho, pois fica pouco tempo em cada lugar. Vi o por do sol que hoje foi azul.
Será que a chuva virá? A escuridão toma conta. Dormimos mortas de cansaço apesar de não termos feito tantas coisas. Esse calor é o que acaba com a gente!

sábado, outubro 07, 2006

Dia 07/10/06 – Abaré (PA)
Ontem seu Miguel, comandante saiu para pescar e voltou com uma arraia presa na malhadeira. Ela tinha ferrado um tucunaré e ambos estavam na rede. Era uma arraia pequena com couro de jararaca, disseram. O ferrão dava medo: olha o tamanho ó. Comemos os dois hoje no almoço.
Conversa com o marinheiro Tapajós:
_ Tapajós, esses pássaros que estão voando, como se chamam?
_ Papagaio.
_ Aqui tem maritaca?
_ Como é maritaca?
_ É parecido com papagaio.
_ Não. Aqui tem um parecido com esse, mas é menor e é chamado de curica, só que não fala. O papagaio fala, esse não. Tem também o maracanã, o periquito normal, o periquito de testa amarela, o periquitinho santo... dessa família todos são verdes. O maracanã não é verde-folha, é mais claro um pouco. Aqui tem arara também.
_ Qual peixe você mais gosta?
_ O melhor peixe é o tambaqui, em segundo lugar vem o surubin. Mas o melhor mesmo é o peixe-boi, só que é proibido comer...

sexta-feira, outubro 06, 2006

Miguel - o comandante

Dia 06/10/06 – Abaré (PA)
Rosinha, a cozinheira do Saúde e Alegria I chamou Miguel, o comandante:
_ seu Miguel, vem ver os peixes brincando de pira!
Saímos às 8 horas para uma intervenção na sala de espera do barco-hospital. Imaginem? Maravilhoso. As pessoas são extremamente receptivas. Acho que faremos isso diariamente. Foi bom ter voltado aos velhos tempos de hospital.
Às 9 horas fomos de voadeira para a comunidade de S. Domingos, onde começa o Parque Nacional do Tapajós e estivemos lá por 2 horas.
Paramos em Itapuama (que tem 9 família) às 18:00 hs. Fizemos apresentação às 20:00 hs no barracão da comunidade à luz de velas e lamparinas. Aprendemos uma coisa nesta noite: Nunca chegue numa comunidade e faça palhaçadas antes de conhecer os moradores.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Dia 05/10/06 – Maguari (PA)
Magnólio contou que uma mulher foi registrar o filho com o nome de Dipirona. O rapaz do cartório disse:
_ Mas minha senhora, isso é nome de remédio!
_ Então me dá uma sugestão.
_ Põe Maria.

_ É, mas Maria é nome de bolacha.
O Abaré saiu de Santarém atrasado e chegou em Maguari às 2 da manhã. Era seu primeiro dia de funcionamento: um barco hospital que atraca diante das comunidades e fica disponível para todo tipo de atendimento. Isso é realmente bem importante para essas pessoas que ali vivem. Os comunitários esperam a voadeira que os trazem até o barco, fazem seus cadastros, aguardam na sala de espera, passam no médico ou dentista, pegam remédios e voltam pra casa. E nossas cabaças já arquitetam planos para as intervenções hospitalares, para relembrar os velhos tempos...
Fizemos uma intervenção na comunidade continuando nossos estudos e voltamos pingando de suor. Almoçamos no barco Saude e Alegria I, despedimo-nos de toda essa equipe que lá estava e nos “mudamos” para o Abaré. Jantamos a nova comida feita pelas mãos de Iraci e Val e iniciamos uma viagem de 10 dias com o barco-hospital pelo rio Tapajós adentro.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Dia 04/10/06 – Alter do Chão (PA)
Saímos com o barco do PSA rumo à comunidade de Suruacá, rio Tapajós. O barco dessa vez está lotado: uma equipe da RAI, TV italiana, outro italiano de uma tv alternativa chamada Roma 1, uma TV alemã, um ator cômico napolitano que é amigo de Leo Bassi, um deputado e uma vereadora do PV italiano, Sidnei - indianista e ex-presidente da FUNAi, Eugênio e Caetano – irmãos fundadores do PSA, Magnólio, Fabinho, a tripulação e nós, Las Cabaças.
As TVs vieram fazer uma reportagem do novo barco-hospital Abaré.
Fizemos uma apresentação improvisada com Magnólio, o palhaço velho conhecido das comunidades. Acessamos a Internet enquanto toda a equipe se reuniu com a comunidade. As crianças ficavam em volta dos computadores vendo com nós, palhaças escrevíamos no computador.
Bifi disse:
_ A Quinan demora pra escrever porque fica escolhendo as palavras pra falar pro namorado.
_ E a Bifi escreve rápido porque está escrevendo pro seu cachorro. Então é só escrever AU AU.
_ É... eu só escrevo AU AU, mas têm as vírgulas, as exclamações, as reticências...
Risos.
Dormimos a noite em Maguari, ponta de praia belíssima. Dormimos na praia e ouvimos os macacos guaribas.

terça-feira, outubro 03, 2006

Desenho do Gabriel

Dia 03/10/06 – Alter do Chão (PA)
Fomos à praia nadar, tomar sol, alongar... ê vida boa! Almoçamos açaí, voltamos à escola Cajueiro para ver os desenhos que as crianças fizeram da parte que mais gostaram de nossa apresentação. Lindos desenhos que ganhamos de presente. Voltamos à praia para ver o por do sol. Conversamos coisas da vida, da viagem, lembramos os amigos e morremos de saudades de tantas pessoas... Tomamos uma cerveja com Fernanda e Chantal, as professoras e idealizadoras da escola Cajueiro. Descobrimos que temos um querido amigo - Luciano Bortolucci - em comum.

segunda-feira, outubro 02, 2006

por do sol em Alter do Chão

Dia 02/10/06 – Alter do Chão (PA)
Acordamos às 6 da manhã, pegamos o primeiro ônibus na praça Tiradentes. Estamos acabadas de cançaso, mochila nas costas, calor desde cedo. Chegamos em Alter, fomos pra casa de Lica e Babi e sua filha Anita, menininha esperta e curiosa. Lica nos levou em sua Brasília cara de palhaço (pois a porta abria na hora da curva) para a escola Cajueiro (escola multiseriada e construtivista), onde faremos uma apresentação. Fomos já vestidas e maquiadas. Chegando na escola há uma placa escrita: Parabéns, você chegou. Parece que foi feita pra nós, que estamos tentando chegar desde ontem. Havia umas 30 crianças com idade entre 5 e 10 anos e muitos cajueiros. Depois da apresentação as crianças quiseram conversar conosco. Perguntaram quanto Quinan calçava. Eu medi com a mão e mostrei o tamanho. Bifi disse que eu calçava o tamanho de um pirarucu. Medimos outros sapatos que eram do tamanho de tucunaré e de piranha.
Almoçamos na casa da Liça e Babi, dormimos a cesta, fizemos bolo com Anita e fomos à praia ver o dia terminar.

domingo, outubro 01, 2006

Dia 01/10/06 – Santarém (PA)
Justificamos o voto. Tentamos pegar um ônibus para Alter do Chão, mas não conseguimos. Esse ônibus cada dia passa num horário, ninguém sabe informar, cada pessoa fala uma coisa diferente.