Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

segunda-feira, julho 31, 2006

Dia 31/07/06 – S. Luis (MA)
Acordei. Fui na internet atualizar os diários. Comi folhado sem café, seco. Esperei. Tentei ler. Desviei. Fomos no centro comprar passagem do Ferry-Boto, mosqueteiro, anti-pulgas, pedir os jornais com as matérias na Fundação. Comi mexerica. Carro, trânsito, recarga de telefone, pegar colchão no Mário, shopping Tropical revelar fotos e pegar bolsinha preta da Ju, supermercado, casa. Comi arroz, feijão e atum. Arrumar as malas, sair para ouvir Blues, não ouvir, conversar, beber cerveja com Gabriel, Gabriela, Mário, Juliana. Voltar pra casa. Chuva, tirar roupas do varal correndo, escovar os dentes, xixi, rede, escrever e dormir. Fim.

Mário é um homem cheio de solidão buscando-se no tambor. Mãos grossas com calos grandes. Está no caminho certo. E nós? Vamos pra onde?
- juliana balsalobre –

domingo, julho 30, 2006

Semi-Breve no Circo da Cidade - S.Luis

Dia 30/07/06 – S. Luis (MA)
Lemos a versão final do artigo que a Biti publicará na revista Boca Larga dos Doutores da Alegria falando sobre nosso trabalho. Nos inspiramos muito. Acho que precisávamos lembrar das coisas que nos fizeram viajar.
Biti está sempre presente, nos falamos pelo telefone.
Fomos para o circo da cidade preparar nossa apresentação: luz, som, aquecimento. Mudamos o roteiro.
A apresentação foi ótima. Estávamos soltas, abertas ao improviso, olhando, escutando, nos divertindo.
Leves e alegres.

Vem jogar mais eu
Vem jogar mais eu
Irmão meu
...
Adeus meu povo
Eu só quero alegria



sábado, julho 29, 2006

Dia 29/07/06 – S. Luis (MA)
Imagine a situação: Eu e Ju conversando sobre o trabalho, a viagem, sensações, medos, dificuldades, pontuações e posicionamentos. Estávamos num chororô danado, corações expostos... Eis que de repente aparece um rato pequeno, desesperado correndo de trás das malas em direção à Juliana. Eu gritei avisando, ela gritou; Ana e Julia que estavam na sala vieram gritando. Nós quatro, frenéticas pulando, levantando as pernas. Busquei a Firula para matar o rato. Juliana estava em cima da cadeira. Firula chegou com tudo, não viu o rato e subiu na cadeira também.
Cercamos o rato com vassoura e rodo, gritando. Ele, desesperado tentava se esconder. Colocamos a Firula cara a cara, ela viu, correu atrás e mordeu. Ele ficou imóvel. Foi uma gritaria absurda.
As lágrimas de choro misturaram com as de tanto rir daquela situação palhascesca. Terminamos abraçadas, choranrindo.
Cada um tem a dupla que merece!

Assistimos a roda de capoeira. Assuélio jogou com um menino estrangeiro que nada entendia de português. O convite foi feito de forma bonita. Primeiro passou o chapéu juntando de tudo um pouco: copo de plástico, bombinha de asma, moedas, coisas invisíveis... botou o chapéu no chão e puxou a ladainha. Quem pegar com a boca, leva. Terminando essa introdução cantada, deu lugar para o menino jogar com o outro companheiro. Ele continuava sem entender. Todos riam da situação. Ele disse que ia ensinar como é que fazia e jogou. Depois jogou com o próprio menino, dando aula.
Foi emocionante de ver. Assuélio tem um jeito de cantar engraçado: ele inventa tudo que vai dizer na hora, mas de vez em quando a rima não vem e ele termina o canto enrolando as palavras. O coro não deixa a música perder força.
Almoçamos com Assuélio e Bel (sua esposa) no mercado redondo da praia grande. Ele disse:
_ Para sobreviver de Capoeira é preciso ser palhaço.

sexta-feira, julho 28, 2006

Dia 28/07/06 – S. Luis (MA)
Voltamos a S. Luis para uma última apresentação no circo da cidade que será domingo.
Internet, estudo de trompete.
Na praça: o tambor de crioula de sexta-feira. Mário tocava e cantava. Bié dançava. Gabriel e Gabriela estavam lindos, serenos, apaixonados, pulsando forte. Eles leram búzios com pai Euclides que contou sua história, me contaram.
Fico ali meio perdida, não consigo nem tomar uma cerveja.
Converso com alguns estrangeiros apaixonados pelo Brasil, boêmios, festeiros, me incomodo com as segundas intenções, saio, ando, quero caminhar.
Recolho palavras: rua, chão, paralelepípedo, música, abrigo, barulho, punks, hip-hop, turistas, tumulto, solidão.
Viajar é para corajoso. O tempo todo: imprevistos.
Comi arroz com camarão nas barraquinhas. Nessa hora passou um menininho que havia assistido nossa apresentação. Ele andava gingado malandro e, me apontando para o amigo ao lado disse: _ Olha lá. Aquela mulher é palhaça.

- marina quinan –

segunda-feira, julho 24, 2006


Dias 24, 25, 26 e 27/07/06 - Lençois Maranhenses (MA)

Dias de férias com os amigos.

domingo, julho 23, 2006

Dia 23/07/06 - S.Luis (MA)

A Firula conheceu um Jurará (espécie de tartaruga).
Nos apresentamos no terreiro de D. Venina à convite de Célia Sampaio.
Chamamos de casa em casa.

Firula e Jurará


sábado, julho 22, 2006

Dia 22/07/06 - S.Luis (MA)

Escrevo essas coisas que seguem e antecedem.
A caneta acabou, pego outra; melhor assim, mais sereno, sem desespero da palavra não se acabar... momento raro de solidão... escrevo frases tão bobas: noite é, noite sou... rio... que bobagens para poeminhas... um lapso de belezinhas. Acho que a poesia é isso mesmo... invasão de sentimentos ingênuos, simples, belos e bobos.
A música ficou chata, fui para a próxima. Quando se está de passagem, tudo muda tão rápido que é preciso desapegar. Questão de sobrevivência. A palavra é acima de tudo um desenho.
- marina quinan -

sexta-feira, julho 21, 2006

Dia 21/07/06 - S.Luis (MA)

Sexta-feira, praia o dia todo. Gabriel, Gabriela, Gabriela (mais conhecida como Bié) e Marina.
Jú foi encontrar problemas, que é o que se faz quando se precisa ir no cartório, correio e na rua grande.
De noite assistimos o espetáculo Dorotéia, do grupo Tapete (cuja verba para montagem veio do prêmio Miryam Muniz).

quinta-feira, julho 20, 2006

Dia 20/07/06 - S.Luis (MA)

Ontem nossos amigos e parceiros Gabriela e Gabriel Carmona chegaram para um pouco de férias e para nos direcionar e instigar com a pesquisa prática sobre o palhaço e as palavras.
Gabriel é diretor e Gabriela atriz.
Apresentamos o espetáculo no SESI, para crianças. Haviam umas 300 delas e foi bem legal. Eles assistiram.
É inspirador ter aliados por perto.

quarta-feira, julho 19, 2006

Dia 19/07/06 - S. Luis (MA)

Tivemos um encontro com uma dupla de palhaças: Raquel e Sandra.
Conversamos muito, trocamos dúvidas, idéias e opiniões.
Elas acabam de montar um espetáculo: O Circo das Trouxas.

terça-feira, julho 18, 2006

Dia 18/07/06 – S.Luis (MA)

A Capoeira de S.Luis é cheia de mestres e alunos formados, o que faz com que a qualidade do jogo seja de altíssimo nível. Fomos visitar o Mestre Patinho em sua casa na rua São Pantaleão. Ele estava dando aula, mas logo foi nos recebendo com alegria dizendo que tinha gostado muito do nosso espetáculo. Entramos na sala e havia 4 alunos treinando. Patinho trouxe cadeiras e continuou conduzindo o treino com energia e empolgação. Seu corpo parece de um gnomo, ele é pequeno, forte, cabelos longos e brancos. Seus movimentos são belos e rudes. Ficamos ali assistindo a aula. De repente, ele chega com uma perna de pau, coloca e começa a andar. A aula continua. Ele queria mostrar pra gente. A aula continua e agora ele aparece com uma arma indígena, grande, linda. Movimenta-se com ela, dando golpes, brincando. Tudo isso no meio da aula. Finaliza a aula.
Patinho morou no Xingu 8 anos, fez balé clássico, anda de perna de pau e monociclo. Está montando um espetáculo que tem uma mulher que vira porco. Pratica capoeira no mínimo 6 horas por dia, de domingo a domingo. Cantou músicas num dialeto africano, de uma beleza esse cantar... ele parece um menino curioso que quer mostrar o que sabe a seus amigos. Um louco, sábio, caótico e apaixonado pela capoeira. Pequeno de tamanho, mas para mim um gigante alucinado. Vou junto com ele nessa brincadeira.
Iê!-
- Juliana Balsalobre -



S.Luis anoitecendo

segunda-feira, julho 17, 2006

Dia 17/07/06 – S.Luis (MA)

Fomos ver a morte do Boi de Santa Fé . A Sede fica no bairro de Fátima. O mestre Zé Olho, cujos olhos são realmente expressivos, é uma pessoa muito boa, preocupado com tudo e com todos. Cuida do seu terreiro e brincantes com amor verdadeiro. Até comigo ele se preocupou quando me ouviu comentar que estava com dor de barriga. Seus olhos me perceberam e no seu posto de Mestre quis ajudar.
A morte do Boi:
Os brincantes saem de casa em casa à procura do Boi que se escondeu. Pegam o Boi e levam até o mourão, um galho de árvore forte, alto, com ramificações e enfeitado com papel crepon colorido e cheio de penduricalhos com bombons (que para nós é bala). Ao lado do mourão estão os tocadores: pandeirão, pandeirinho, e tambor-onça (espécie de cuíca, com som mais grave). Zé Olho puxa as toadas e o povo canta o refrão. É hora de laçar o Boi. Alguns brincantes tentam e quando um deles consegue, amarram no mourão. É lá que ele vai morrer. Normalmente o Pai Francisco está junto com seu facão. Morre o Boi que sai de cena. O vinho é derramado numa bacia como símbolo do sangue do Boi. Zé Olho corta o mourão. Todos entram na sede, pois toda a representação foi feita na rua. Oferecem os bolos feitos pelas mulheres, orgulhosas. Devia haver ali uns 20 bolos, verdadeiros bolos. Cada qual com sua característica, sua personalidade, seu sabor.
Brincamos muito, toda a noite.
Uma menina me olhava, perguntou meu nome, eu disse:
_ Juliana, mais conhecida como palhaça Bifi.
Pus-me a fazer palhaçadas mexendo a bunda entortada. Ela ria e contava aos amigos quem eu era. Quiseram saber onde eu morava. Numa caixinha de fósforos. E ela:
_ Junto com os outros palitinhos, né?
Marina nessa hora estava junto com os tocadores, vibrando com eles. O Boi é tudo isso, a brincadeira, a música, a loucura, o sagrado, os encontros e olhares que acontecem ali no meio, no suor, na voz rouca, no corpo torto. O sentido da palavra brincadeira se ampliou para mim e eu também. As pessoas nos querem muito bem.

domingo, julho 16, 2006

Dia 16/07/06 – S. Luis (MA)

Dia dedicado à nossa apresentação. Café da manhã, aquecimento, contato-improvisação, fomos de ônibus para o Teatro Odylo Costa Filho, preparamos o espaço, o material, etc...
A apresentação foi bem difícil, tensa, com os tempos perdidos. Cada dia é um dia! Ser palhaço não é bolinho não. O melhor de tudo foi a participação de Mestre Patinho na cena da pulga.
Marina foi pra casa e eu fui ver a morte do Boi de Santa Fé. Depois, Tambor de Mina na Fanti-Ashanti. Era o encerramento da festa do Divino, que durou 3 semanas. A coroa do espírito Santo é passada de mão em mão.


Patinho arremessando a pulga Elvis

sábado, julho 15, 2006

Dia 15/07/06 – S.Luis (MA)

A caminho da casa do Mestre Felipe (mestre de Tambor de Crioula), conhecemos a Sede de Toninho, dono de um Boi de Baixada. Conhecemos Conceição, sua esposa. Pegamos seu filho que nos mostrou o caminho para a casa de Felipe.
Mestre Felipe tem 82 anos e é casado com dona Raimunda, carinhosamente chamada de Mundica. Ele sente muitas dores no corpo e já não toca mais o tambor. Só puxa de vez em quando uma ou outra toada. Tem muito amor pelo tambor, sua vida, sua fé. Na conversa fiada ele soltou umas frases inesquecíveis:
_ Uma hora dessas o tambor já estava apanhando.
_Quiabo nem espera o arroz. Já escorrega para dentro.
_ Vocês iam ver a briga dos tambores: paracatu, paracatu, paracatu... piririm, piririm.
Terminamos a tarde numa roda de Capoeira Angola. Vi Assuélio jogar. Um rapaz interrompeu a roda bruscamente para a revolta de todos só porque tinham que seguir a programação do evento (Encontro de Capoeiristas). Nem deu as despedidas, nem cantou o Adeus, adeus, boa viagem. Assuélio, no meio do clima tenso diz:
_ Muito bem, agora eu quero saber qual é a flor preferida de cada um de vocês.
Ele é meu herói!


Zé Filho e Zé Domingos jogando capoeira angola

sexta-feira, julho 14, 2006

Dia 14/07/06 – S.Luis (MA)

Passamos o dia na praia da Raposa, um município bem próximo daqui. Fomos eu, Juliana, Bié e Mario.
De noite: Casa Fanti-Ashanti, Tambor de Mina.
Quando chegamos já havia começado. Entrei no terreiro e uma emoção me veio forte, arrebatadora: Aquilo para eles é Sagrado. A coisa mais forte que há no mundo é ver alguém realizando algo Sagrado. Talvez não o seja para outros, mas isso deixa de importar porque aquelas pessoas estão ali e o Sagrado também. Presentes. Não há como não se emocionar.
- marina quinan –

Cheguei e os encantados já tinham baixado, canto forte, tambores, giros, cheiro... Eu ali sentada, olhando e rodando junto, entrei em outro estado de consciência, vi um jarro cair no chão. Uma energia muito forte, resolvi sair do salão. Fiquei de fora olhando. Maria José, amiga antiga de pai Euclides tem 90 anos, puxou um cântico, sua voz pequena e bela ressoou diferente, era suave, doce.
-juliana balsalobre-

quinta-feira, julho 13, 2006

Dia 13/07/06 – S. Luis (MA)

Festa dos Orixás na Casa Fanti-Ashanti. Entram Xangô, Oxum, Nana, Iemanjá Oxossi, Ossaim, Euá e Ogum. Vestimentas belíssimas e a força da dança. No final, os Erês (que são crianças, incorporadas por adultos). Teve um que me chamou atenção e me aproximei:
_ Qual o seu nome?
_ Corisquinho e o seu?
_ Juliana.

Perguntou sobre o que eu estava fazendo aqui, eu expliquei um pouco da viagem, e que meu trabalho era fazer palhaçadas. Nesse momento, Corisquinho, incorporado por uma mulher, arregalou os olhos, sorriu e disse:
_ Então faz palhaçada aí.
Dei a mão para cumprimentá-lo dando 3 pulos (gag que aprendi com Ferrara). Risos. Ele me pediu outra. Fiz a mão que gruda. E então veio o novo pedido:
_ Faz cambalhota?
Fiquei intimidada, pois estava de saia. Ele disse:
_Eu vou fazer!
E se pôs a vira cambalhotas no meio do terreiro, os outros Erês riam e se divertiam.
Fiquei com vontade de fazer nosso espetáculo só para Erês.
Bié chegou para nos visitar.

quarta-feira, julho 12, 2006

Dia 12/07/06 – S. Luis (MA)

A caixa d'água da casa voltou a funcionar normalmente.
Estivemos na Aconeruq – reunião com Borges, mas ele não foi. Está em Alcântara. Sobre a Aconeruq: “entidade jurídica de direito privado, de caráter civil e utilidade pública sem fins lucrativos (...) existe desde 1997 e tem como objetivo principal lutar junto às comunidades quilombolas pela regularização das terras de Quilombo, fortalecer a formação da identidade racial, resgatar a auto-estima das comunidades, reivindicar e implementar as práticas públicas nacionais para o exercício da cidadania. (...)”
No Maranhão existem mais de 600 comunidades quilombolas.
De noite fomos na Casa Fanti-Ashanti para a festa de Oxalá.
Pai Euclides paramentado de Oxalá, com uma dança única.
No final da festa aparecem os Erês.

terça-feira, julho 11, 2006

Dia 11/07/06 – S.Luis (MA)

Na rua, dois meninos que brincavam me perguntaram o que acontecia depois da morte e como morríamos. Perguntou se era de carro e se quando eu morrer eu iria me enterrar. Fiquei ali meio parada, sem saber o que dizer. Meu rosto se fez cansado, meu corpo amoleceu e meu pensamento não entendeu.
Então eu disse:
_ Existem vários jeitos de morrer.
_ Pode morrer doente, quietinha né?

_ É... mas agora eu vou pra lá...
_ Lá onde?
_ Lá a onde nascem as palavras.
_ Ah já sei, é depois do ponto de ônibus, não é?
_ É. Andei pra procurar...
- juliana balsalobre -

segunda-feira, julho 10, 2006

Dia 10/07/06 - S.Luis (MA)

Cansaço. Preciso dançar. Uma massagem não seria nada mal. Pensei que... O que foi mesmo que pensei? Algumas coisas essenciais: a mudança de ritmo nas ações e na sonoridade das palavras. Isso "funciona" em todo lugar. É como se a palavra escorregasse. Pecebi isso depois de Frechal. Lá as pessoas não falam, cantam. Vi cenas lindas, verdadeiras obras de arte:
Vi Jorge levando seu passarinho na gaiola, sorrindo.
Vi a pedra do orelhão, as pessoas em volta esperando e conversando...
Às vezes vou para o futuro em pensamentos.
Vi uma fila de crianças em cima da árvore esperando sua vez de pular no rio.
Vi Maria dançar reggae.
Vi Dona Duzinha ouvir as palavras que dissemos.
Vi Vaga Lumes
na noite de lua.
O Frechal tem um jeito de dizer sim. Eles dizem: hum-hum.
Como quem diz não, só que é sim.
Achei isso tão bonito, mas não sei explicar o por quê.
Estou muito para coisas inúteis do tipo: desenhar.
-marina quinan-

domingo, julho 09, 2006


09.07.06 - Frechal (MA)

Fomos dar a despedida de casa em casa, pessoa em pessoa.

Olhos fortes, bênçãos, abraços e palavras.

Momento delicado e difícil para palhaços.

Dani me abraçou forte sem segurar as lágrimas, depois saiu correndo.

Eu disse que para matar a saudade eles tinham que fazer palhaçadas.

Frágil consolo!

Eu mesma não consigo nem mesmo me agüentar com essas saudades.

...

Partimos com dor nos peitos.



Marina com as crianças

sábado, julho 08, 2006

08.07.06 - Frechal (MA)

Dia de festa no casarão. Dia de feijoada.

Ajudamos a varrer e fomos à casa de Seu Bié, ouvir estória.

Foram nos chamar para fazer a apresentação.

O que eu mais gosto é de ver as pessoas de mais idade gargalhando.

As gags clássicas fazem com que lembrem de seus tempos-moços.

Faz-me sentido estar aqui.

Dançamos o Tambor de Crioula e pela primeira vez consegui deixar o tambor me levar. É forte mesmo. O ritmo vai chamando.

Fomos nadar no rio de noite.

Dani , uma menininha perguntou:

_ Amanhã eu não vou mais olhar ocês?

Conversa com Jorge: (Jorge é um rapaz que merece muitas palavras, mas não consigo escrevê-las)

_ Ai, meu Deus! Esqueci de recolher os bois. Foi tanta festa que eu esqueci

_ Você é esquecido, Jorge?

_ Sou muito.

_ E você se lembra das coisas também?

_ Ah sim, mas quando eu lembro, aí já foi, né?.

sexta-feira, julho 07, 2006

07.07.06 - Frechal (MA)

Visitamos Maria, onde almoçamos arroz, feijão e farinha. Arriscamos comer ingá verde. Fomos com as crianças colher cabaça e cuia. Comemos cacau fora de época, conversamos com S. Inácio que nos contou um bocado de histórias, fomos “despreocupar” Dona Duzinha que nos esperava para jantar.

Os meninos instalaram as radiolas no casarão, dançamos Reggae.

Fomos para o Quilombo de Mundego ver o Boi.

Jonas nos levou de moto, a lua estava quase cheia, céu estrelado.

Seu Matias Silva tocava zabumba. Ele e o outro companheiro zabumbeiro foram à pé: uma hora e meia de caminhada.

Encenaram a morte do Boi.

Eram três mortes. Cada morte, um couro novo.

A noite estava fresca: lua, fogueira e Boi.

Nós éramos as únicas pessoas de terra estrangeira.

Havia duas barracas apenas. Comemos canjica, bolo de tapioca com coco e erva doce e laranja.

Cachaça pouca, só para emocionar.

Quem tinha frio se cobria com toalha.

Dona Duzinha

quinta-feira, julho 06, 2006

06.07.06 - Frechal (MA)

Acordamos cedo, Lais foi embora.

Fomos até Damásio (outra comunidade Quilombola) de carona com Daniel (da Expedição VagaLume), Serrinha (da Secretaria de Educação) e Henrique (o motorista).

Conhecemos D.Firmina que desandou a contar histórias.

Contou de um parente, José Meloso, que estava ruim, doente no hospital e pediu à sua mãe que colocasse duas colheres de farinha em sua boca para que morresse em paz.

Ela deu. E foi a derradeirinha vez, pois ele já foi amolecendo junto com a papa na boca.

Conheci duas mulheres: uma desmanchava o cabelo da outra. Aqui este é um hábito comum: as mulheres sentam-se fora da casa para se pentear. Uma arruma a outra, fazendo penteados belíssimos, trançados de forma tão criativa que minha imaginação não alcança. Fazem e desfazem os cabelos com freqüência. Deixam sem penteado por uns dias para aliviar o couro cabeludo.

Perguntei sobre suas filhas que ali brincavam. Aí começou a malícia, começaram a falar de homens, que a outra tinha casado na “igreja verde”. Fiquei sem entender. Depois ela explicou:

_ Igreja verde é o meio do mato mesmo. A gente chama também de motel de calango.

Rimos.

Elas eram extremamente bonitas: o sorriso, o brilho da pele, os cabelos, a alegria.

Hoje o entardecer foi especialmente bonito, de um azul anil-alaranjado... e a nossa estrada passava por diversos Quilombos da região.

Quilombo é lugar que emociona.

Voltamos para Frechal.

Jonas e Jorge são duas pessoas boníssimas. Eles quiseram experimentar ser dupla de palhaço.

Ensinamos a gag clássica que o Léris Colombaione nos ensinou (que aliás, é infalível!) e eles fizeram.

Ficamos rindo até entrar a madrugada.


Criança em Damásio

Jonas e Jorge

quarta-feira, julho 05, 2006

05.07.06 - Frechal (MA)

Acordamos e fomos ver a casa de farinha funcionando, os homens trabalhando. Espalhar farinha na grande chapa quente é trabalho duro e pesado. Quanto mais tempo ela fica parada, escaldando, mais grossa fica. Se espalhar logo no começo, fica fina. Aqui no Frechal eles gostam é de farinha grossa.

As terras do Frechal, chamado de Quilombo até hoje pelos moradores, pertenciam à D.Mundoca que ao morrer, como não tinha herdeiros, deixou tudo registrado em cartório para seus pretos, como ela dizia.

Um latifundiário (Thomaz Cruz de Melo) comprou as terras comprando os funcionários do cartório, que arrancaram as páginas do livro. O advogado Dimas Salustiano, ajudou a recuperar a posse, mas tudo isso depois de muitas outras ações e muitas lutas (ficaram acampados na sede do Ibama por 20 dias) pressionando a oficialização do documento.

Todas as reuniões eram combinadas aos cochichos e feitas de madrugada.

Atualmente são proprietários de 9.400 hectares de terra que usam para sobrevivência. Plantam arroz, milho, feijão, cana, maniva.

Antigamente havia grande quantidade de mangueiras plantadas, mas S. Thomaz derrubou tudo para trazer gado e construir uma pista de pouso.

Um grande desgosto para eles que aqui nasceram e conviveram com as árvores desde crianças.

A igreja é redonda, segundo Jonas porque o círculo é a forma da organização da sociedade. Círculo é união.

Fizemos uma saída de palhaças pelas ruas, visitando as pessoas em suas casas, sem avisar. Tivemos momentos inesquecíveis, como quando D. Duzinha trocou de nome com Quinan.

Bifi fez a cerimônia.

Ou quando o batalhão de crianças que nos seguia cantava junto:

Branca, Branca, Branca

Leon, Leon, Leon...

À noite fizemos fogueira, cozinhamos mingau salgado no fogo. A noite estava estrelada, lua crescente. Uma tranqüilidade de lugar antigo.

Saída de Palhaças


Crianças com as Cabaças

Quinan e as crianças


Bifi e as crianças

Segurando parede.

terça-feira, julho 04, 2006

04.07.06 - Frechal (MA)

Acordei com um monte de crianças em volta da rede, olhando, cochichando. A cena estava linda.

Levantei para cumprimentar aquele bando de crianças que só nos largavam para dormir.

Estamos dormindo no antigo casarão, que tem 214 anos e hoje é o centro cultural da comunidade.

Conhecemos a Biblioteca Vaga Lume e fomos nadar nos rio Cacete de Inácio, também conhecido como prainha.

Havia umas 20 crianças, nós, Jonas e Fábio.

No caminho conheci D. Juvina, mãe de Jonas. As crianças correram para pegar a benção. O gesto era diferente do beija-mão conhecido. As crianças levantavam as costas das mãos em direção ao rosto dela depois levavam a palma da mão em direção à cabeça ou à boca.

Ela me disse que era bom pegar a benção porque é o momento em que a pessoa só deseja o bem para o outro.

No rio a Firula foi o acontecimento, nadou junto com a molecada que pulava da árvore e balançava no pedaço de pau. Ela ia junto e tentava morder a água. Parecia uma lontra feliz da vida. Ao sair da água soltou uma espécie de arroto com tanta água que bebeu.

As crianças adoraram ela.

À noite fizemos uma apresentação no casarão. Haviam mais ou menos 50 pessoas, de todas as idades. Nos divertimos muito. Eles também. Depois que terminamos, queriam que continuássemos. Não saíram do salão. Ficaram ali esperando mais palhaçadas.

Voltamos e ficamos sentadas com eles, improvisando coisas. Uma mulher se levantou, começou a dançar com Quinan.

Firula se empolgou e mordeu o pé de Quinan.

As pessoas deliram quando ela faz isso!

Foi engraçado.

Público no casarão


Público no casarão


Casarão de Frechal


segunda-feira, julho 03, 2006

03.07.06 - Comunidade Quilombola de Frechal (MA)

Lais nos levou até Frechal (aqui vai nosso agradecimento por isso).

Fomos de Van. 33,00 reais a passagem incluindo o Ferry-Boat, também chamado de Ferry-Boto.

Firula veio junto feliz da vida, pois nos últimos dias viveu uma vida pacata no quintal de casa, saindo apenas para cheirar os cachorros da vizinhança.

Ela dormia ora no colo de Juliana, ora no colo de quem sentava ao lado. O rapaz nem se importava. Até fazia carinho.

Durante a travessia na balsa ela teve que ficar sozinha na parte de baixo, junto com os carros. Deu dó da bichinha que gemia quando fomos buscá-la. Ela dorme agora do meu lado em cima de uma cadeira.

Chegamos no Frechal.

O motorista que nos deixava no antigo casarão, disse:

_ O que vocês vão fazer aí? Aí só tem visagem!

A noite era linda e a mata estava cheia de vaga lumes.

Fomos recebidas por Lia e Jorge e Fábio.

_ Como é seu nome?

_ Fabio.

_ E o seu ?

_ Marina.

_ Obrigado.

_ Obrigado por quê?

_ Por me dizer seu nome.

domingo, julho 02, 2006

02.07.06 - S.Luis (MA)

Lais é uma amiga nossa de SP que criou (junto com Fofa e Silvia) a Expedição VagaLume, que implanta bibliotecas e capacita educadores em comunidades da Amazônia.

Não sei se vocês sabem, mas o Maranhão também é Amazônia...

Agora a casa tem 7 mulheres ( Marina, Juliana, Mariana, Ana Paula, Pricila, Lili e Lais). Haja balde d’água!

Digo isso porque falta água na casa depois do meio dia.

É preciso buscar água no poço da casa do vizinho, seu Antonio. Banhos `a lá canecadas.

Nada mal. Essencial.

Seu Antonio está tirando o mato do quintal da nossa casa. Outro dia ele chegou para trabalhar com uma gaiola. Trouxe o pássaro para acompanhá-lo. Era um corrupião.

De noite fomos ver o Boi de Cururupu, no arraial da Madá.

Curioso foi uma brincadeira que começou sem pretensão:

Um menino me perguntou de onde eu era.

Eu, que estava dançando com um maracá que um caboclo de pena havia deixado comigo, fiz um gesto e ele disse:

_ Da Índia?

_ Sim.

_ Quanto tempo você levou para chegar aqui?

_ 300 dias.

_ Você veio como?

_ De jegue (e apontei para Juliana que dançava).

_ Ela ?

_ Sim. De dia ela é jegue e de noite vira mulher.

(risos)

_ Mas o que ela come?

_ Capim.

(risos)

_ A família dela sabe?

_ Claro! Acontece com todos da família.

(eles olharam para Mariana, irmã da Juliana, que são bem parecidas. Ele foi perguntar)

_ Ei, é verdade?

Mariana não sabia direito do quê se tratava e respondeu que sim.

O menino me pediu para passar lá no dia seguinte para ver a Juliana-Jegue. Eu disse que ia. Ele me abraçou forte e foi embora.

sábado, julho 01, 2006

01.07.06 - S.Luis (MA)

Jogo do Brasil e chegada da Lais.

Estamos assistindo a Copa do mundo, apesar de não comentarmos.

Gravamos o áudio das pessoas assistindo os jogos, comentando e torcendo nas diferentes cidades. Alguns registros não ficaram bons.

... aquele velho problema da qualidade técnica do registro...

Além do quê minha câmera quebrou!

Assistência técnica da Cannon: só em SP.

Essa vida é mesmo um fiofó de vaca! (Ariano Suassuna)