Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

quarta-feira, maio 31, 2006



31.05.06 - Nova Olinda (CE)

Acordamos em Juazeiro e fomos nos despedir do Carroça de Mamulengos.
Desde já sentimos vontade de voltar para ficar por mais tempo.
Fomos para Nova Olinda e hoje mesmo fizemos o primeiro dia da oficina com 20 pessoas: crianças, adolescentes e dois adultos. Trabalhamos observação, olhar, espaço e presença, um pouco de triangulação, entradas e saídas.
De noite teve festa de coroação de Nossa Senhora. Marina foi dormir exausta e eu fui lá fora escrever, tarefa bem difícil essa, pois as crianças se juntam em volta para conversar, querendo saber tudo que seja possível perguntar. Às 22:00hs fui dormir com muito sono.

terça-feira, maio 30, 2006

30.05.06 - Juazeiro do Norte (CE)

Essa noite sonhei com uma multidão de gente, eu olhava como se meu olhar fosse uma câmera e a multidão ia se afastando, ficando bem pequena como se fossem grãos. Nessa hora aparecia o Glauber Rocha pisando em todo mundo, dançando em cima do povo. Ele dançava e me falava coisas sem parar. Na perspectiva do meu olhar, ele era um gigante e a multidão parecia uma poça d’agua.
Oficina na Juriti.
Primeiro assistimos o vídeo do espetáculo deles: “Patativa – cuidande do Semi-Árido”, (espetáculo baseado nos poemas do poeta Patativa do Assaré).
Montamos a oficina baseada nas necessidades que vimos na fita.
Trabalhamos presença, olhar, percepção e no final, claques.
Estou com o corpo moído.
Nome bom pra palhaço é o desse senhor que trabalha no hotel onde estamos: Seu Gel. E ainda por cima, ele usa um bigode...
A Secretaria de Cultura do Ceará está fazendo uma coisa muito importante: estão pagando um salário de 600 reais para alguns mestres da arte popular. Tem mestre de reisado, tocador de pífano, artesão... gente que mantém viva uma tradição do fazer artístico. Não sabemos qual o critério para a seleção do Mestre.

segunda-feira, maio 29, 2006

29.05.06 - Juazeiro do Norte (CE)

Amanhã faremos uma vivência de palhaços com os meninos da Ong Juriti, projeto coordenado por Cristina. O objetivo da Juriti é ensinar a arte do circo para meninos de rua, alguns ex-infratores. Num lugar onde o circo é visto como “putaria”, segundo ela, o trabalho é dobrado: primeiro é necessário mostrar aos pais dos jovens que circo não é isso que se vê por aí, circo é espírito de grupo, determinação, confiança, alegria e sonho. A Juriti pretende também dar oportunidade para que o circo seja uma nova fonte de trabalho. No Festival dos Inhamuns eles receberam 800 reais para dividir em 15 pessoas.

Fomos na casa do grupo Carroça de Mamulengos. O pai (Carlos, goiano), a mãe (Shirley, nascida em Brasília) e 8 filhos, cada um nascido num lugar. São muito acolhedores, gostam de receber gente.

No momento a Cia Ambulante (que conhecemos em Tauá) estão morando com eles e hospedam Odília e Kika, de Recife. A casa é movimentada, enquanto uma estuda clarinete, outro termina de pintar um quadro, crianças bordam em ponto livre, outra varre a casa, outros conversam na varanda, as crianças brincam...

São uma família itinerante, mas estão em Juazeiro há 3 anos desenvolvendo um trabalho com a comunidade, dando aulas, incentivando os artistas a organizarem-se em cooperativas, discutindo o valor dos cachês, que não pode ser tão baixo, pois desvaloriza o trabalho...

Fomos com a Maria (filha mais velha – 18 anos) assistir o ensaio das guerreirinhas, cuja Mestra é D. Margarida, vinda de Alagoas, mas o Guerreiro nasceu ali mesmo em Juazeiro. Maria toca acordeon, o irmão, alfaia e D. Margarida canta com sua voz grave e inesquecível.

As crianças tinham em média 10 anos, cantavam e dançavam. Tinha uma pequenininha de uns 2 anos no máximo que ficava no meio de todas dançando sem a regra do brinquedo, solta como um anjo com as perninhas magrelas batendo o pé e olhando as outras. Os meninos ficavam sentados em volta olhando para aprender.

Eu não consegui tirar o olho de um pequeno que estava morrendo de sono, ficou o tempo todo pingando, quase dormindo. Ele tentava se encostar nos outros, que saiam de perto e ele não conseguia fazer nada, nem deitar, nem levantar. Ficou naquele vai e vem até o fim do ensaio.
Certamente tínhamos que filmar isso, cuja situação era completamente “palhacesca”, mas vejam vocês nossa dificuldade: a câmera estava sem bateria, para carregá-la era preciso pegar o transformador no carro que estava longe e se eu saísse dali, perdia o ensaio. Poderíamos tê-la carregado na noite anterior, mas não deu. O cansaço era enorme para pensarmos nisso.
Essa história de registrar é realmente complicada, demanda uma certa atenção que não podemos dar pois a viagem já é por demais intensa para pensarmos em tudo! Uma outra pessoa aqui é imprescindível! Alguém se habilita?

Hoje na rua vi um homem com uma carrocinha cheia de sapatos velhos e uma placa : Pronto-Socorro.

_ Ser só artista, um bom artista é muito pouco. Difícil é ser um grande ser humano.
(Frase do Carlos – Carroça de Mamulengos)

domingo, maio 28, 2006


28.05.06 - Juazeiro do Norte (CE)

Acordamos na casa do José Raimundo, que nos cedeu mais uma vez a casa.

Viajamos para Barbalha para assistir a tão falada festa de Santo Antônio. Muitos homens carregam um grande pau de 22 metros, saem da mata às 12hs e percorrem a cidade que já está em festa esperando o pau passar. Quando chegam na igreja matriz, hasteiam o pau que fica ali por uma semana para as moças tirarem pedaço para casar. Depois teve o coral de aboios que cantavam músicas lindas, de outros tempos.

Dormimos em Juazeiro.

sábado, maio 27, 2006


27.05.06 - Arneiroz – (CE)

Acordamos em Viçosa, passeamos e voltamos para Arneiroz. Eu queria muito ver o encerramento do festival e assistir a Carroça de Mamulengos e o Circo Poeira.

No caminho passamos por uma cidadezinha chamada Riacho e vimos um circo armado com as luzes acesas. O espetáculo ia começar.

O Gran Circo Romeno (não havia nenhum romeno lá) não tinha lona no teto, só a que rodeia e o ingresso custava 1,00 real. O céu estava estrelado.

Era um circo decadente, o dono era um malandro picareta, gente que queria tirar o dinheiro do povo. O palhaço só soltava piadas preconceituosas, como quando chamou o negro da platéia de pão tostado, agressivamente. O mais revoltante foi quando chamou 6 crianças para fazer brincadeiras e o que ele fez: formou duplas e toda vez que ele falasse “Leite Ninho” era para as crianças simularem o ato sexual e a medida que o ritmo aumentava, era para eles acelerarem. A melhor dupla ia ganhar ingressos para voltar no dia seguinte.

Foi deprimente a miséria humana. Deu tristeza ver aquela gente que foi ao circo para se divertir, e o quê eles vêem é pior do que passa na TV.

Chegamos em Arneiroz e ainda pudemos assistir o Coloral, que é famoso em Fortaleza. Fazem desafio de pandeiros.

Ele é bom com a palavra, tem um ritmo próprio. É muito engraçado.

Conversamos com ele, que é bem simples e tímido. Totalmente diferente de quando está em cena. É um trabalhador, todo dia está numa praça formando roda e passando o chapéu.

Ele não quer que os filhos sejam palhaços, quer que estudem e, fazer palhaço ele ensina, mas só se for por questão de sobrevivência.

Aqui no Ceará, me parece que ser palhaço é uma questão de sobrevivência, uma maneira de ganhar a vida. E aí, se encontra muitos Menelões e alguns Bobo Plin.

Conversei com o Caio, Sandra e Marcelo do Circo Poeira. Conheço o Caio há tanto tempo, mas nunca mais nos vimos. Foi bom reencontrá-lo aqui e, apesar de rápido, o encontro foi duradouro.

Encontros e despedidas.

sexta-feira, maio 26, 2006

26.05.06 - Viçosa – (CE)

Acordamos e fomos para Viçosa. Eram 200 Km e imaginamos que em 3 horas chegaríamos, mas a viagem demorou 8 horas. A estrada em muitos trechos era de terra e quando tinha asfalto ele ia beirando as casas. Muitas crianças e gente no acostamento.

O caminho até Viçosa é lindo. Passamos pela zona rural do sertão, que é cinematográfica. Todos aqueles lençóis estendidos para secar feijão no meio das ruas e o povo trabalhando, descascando e limpando. Na estrada cruzavam bichos de tudo que é espécie: galinha, porco, calango, burro, boi, cavalo. Eles atravessam a estrada de um jeito tão tranqüilo que passa a ser engraçado, pela situação.

O clima e a paisagem mudaram radicalmente. Choveu nossa primeira chuva no caminho. Ela começou pouca, só refrescando e trazendo cheiro, mas depois, na serra, caiu com gosto.

Que lugar lindo é a serra da Boa Vista com uma chapada cortando o sertão. Tiramos fotografias. Tinha hora que a chapada ficava metade no sol e metade na chuva. Um espetáculo.

Nossa apresentação foi a melhor de todas, apesar de termos chegado em cima da hora, sem tempo para nada. Nos apresentamos na frente da igreja do céu, que fica no alto do morro e de lá dá pra ver toda a cidade, que é histórica e belíssima, como dizem. O público era ótimo ( 1500 pessoas ou mais). Todos ficaram em silêncio, concentrados

Esqueci o trompete e a partitura.Toquei com o trompete da bandinha da cidade que se apresentou antes de nós.

É uma loucura dirigir o dia inteiro, descer do carro e fazer palhaçadas. A cabeça atrapalha. Mas gosto.

quinta-feira, maio 25, 2006

25.05.06 - Crateús – (CE)

Acordamos cedo e fomos para Crateús para a oficina.

Essa oficina à princípio era de 3 dias, reduziram para 2, colocaram o segundo dia junto com nossa apresentação, tivemos que cancelar, pedimos dois períodos: manhã e tarde, mas no final só foi de tarde. Tínhamos 4 horas, então.

Era uma oficina para palhaços e haviam crianças, professores, gente de teatro, curiosos em geral. Uma criança perguntou:

_ Eu posso fazer a oficina só para aprender?

Só nos restava fazer uma vivência e foi o que fizemos.

O retorno que as pessoas nos deram foi bem interessante. Falaram que nós tratamos o palhaço de forma não vulgar, sem preconceito com mulher, gay e raça, coisa que se vê em muitos palhaços por aqui.

_ O palhaço de vocês tem uma forma mais simples e ingênua que pode até parecer bobo, mas não precisa agredir o outro para fazer rir.

Vê-se que este é um tema de discussões por aqui, principalmente entre educadores.

Essa coisa de dar oficina em festival, por um lado é delicada porque a cidade fica fervorosa durante uma semana, as pessoas fazem oficinas relâmpagos, e depois tudo volta ao normal sem muita perspectiva de trabalho, mas acredito que a Secretaria de Cultura do Ceará está fazendo um ótimo trabalho nesse aspecto, fazendo levantamento dos artistas locais e das carências e necessidades deles.

Fomos ao circo de noite.

As apresentações não foram muito boas. Os palhaços (Linguiça e Cara Melada) são obscenos demais, fazem piadas maldosas, como o último que chamou uma criança para fazer um número, ele falava que a criança era tão feia que parecia tumor. E o povo ri disso! O corpo dele era morto, a energia bem baixa, as roupas exageradamente coloridas e a maquiagem que o esconde demais. O Lingüiça usava uma gravata que subia aleatoriamente, a qualquer momento.

Depois das apresentações demos entrevista para o Tadeu (revista Raiz). A matéria era sobre o mercado de trabalho para palhaços. Descobri que ele foi aluno da minha tia Raquel Balsalobre.

Fomos dormir num sítio porque o hotel não aceitou a Firula, o que foi ótimo para nós porque o lugar era lindo. Encontramos o Jackson e Ronaldo, eles vieram com a escola pernambucana de circo, mas não conseguimos assisti-los.

Tive aqui uma experiência inédita que quase aconteceu e acabo de me afeiçoar por essa palavra: QUASE.

Deu-se o fato de que eu, fazendo minhas necessidades diárias no banheiro; cujo tempo foi demorado, porém revitalizante; ao terminar a aventura dei descarga e vi dentro da privada uma perereca rodando junto com a merda. Ela lutou com toda sua força e saiu vitoriosa ficando imóvel no canto.

E eu fiquei ali ... parada... meio besta, só imaginando como seria se ela tivesse se manifestado um pouco antes e pulado num meu ângulo nada convencional.

QUASE aconteceu.

quarta-feira, maio 24, 2006

24.05.06 - Arneiroz – (CE)

Logo que chegamos em Arneiroz, as meninas que conhecemos no ano passado estavam lá e nos receberam com abraços e beijos: Ana Hilda, Ana Cilda, e Edileusa. Não sabiam que nós é que éramos Las Cabaças. Elas foram nossas anjas.

Nossa apresentação foi ótima, mais jogada, mais tranqüila. Nos sentimos mais em casa, pois a lona era menor, (cabiam 500 pessoas sentadas e juntava gente em volta, olhando de longe) e nos possibilitou olhar mais para o público e jogar com ele. Conseguimos reelaborar a cena da pulga introduzindo mais uma pessoa da platéia.

Filmamos para registro e as fotografias do Arthur ficaram ótimas.

Assistimos o Bicolino que fez a entrada da sonâmbula.

A esposa dele faz a escada. Ele já está coma vista ruim, só enxerga de um olho e ela vai orientendo:

_ Chegue mais para frente... a saída está á direita...

É bonito vê-la em cena, sem nenhuma caracterização, sendo ela mesma: a fiel companheira do Palhaço...

Arneiroz é uma cidade com 7 mil habitantes, fica no pé da serra - de manhãzinha chega à fazer frio - tem uma barragem aqui do lado boa demais para nadar, um ótimo grupo de teatro (Grupo Jucá), e as pessoas mais carinhosas que já vi ... e tem a Mudinha, que é figura conhecida por todos.

Tudo isso faz com que o circo aqui seja uma das coisas mais maravilhosas de se ver. Todas as pessoas se conhecem estão lá, a Mudinha sempre se manifesta nos espetáculos – é bom ver o jeito que cada palhaço se relaciona com ela – e cada pessoa que é chamada no palco vira objeto de comentários por muito tempo, mesmo depois que o circo se vai.

terça-feira, maio 23, 2006


23.05.06 -
Tauá - (CE)

Conversei com aquele pessoal de Brasília, eles têm uma veraneio e desde 2002 estão viajando pelo nordeste fazendo palhaçadas, fazem perna de pau e bonecos também. Aprenderam com o Pirombeta (Palhaço de Brasília que faleceu há 15 dias). Nós o conhecemos no último festival de Brasília, temos registro do seu trabalho.

Disseram que o Xuxu os ajudou muito na Paraíba.

Fomos para a lona ver o espaço, luz e som.

Os técnicos estavam jogando uma partida de “Four Bate” com o baralho.

Começamos a ensaiar e eles pararam a partida pra assistir. Se divertiam e davam palpites preciosos.

Bifi perguntou ao mais encapetado deles (Marcos) o quê ela deveria fazer quando ficasse sozinha em cena, depois que Quinan a abandonava. Ele disse:

_ Você tem que se jogar em cima das pessoas na platéia para procurar ela. O povo gosta disso.

Depois que saímos do palco, eles fizeram a gag do Soldado, com a mesa e cadeira para experimentar.

Se divertiam tanto que dava gosto!

Nossa apresentação foi a última da noite e havia, umas 1500 pessoas ali. Tivemos problemas com os microfones (somente um funcionou) e com a musica do final (que não entrou).

Saímos dali com muitos questionamentos. No circo é preciso uma energia triplicada e ações pontuais. Não há muito espaço para esse raciocínio poético. Tudo tem de ser bem claro e definido. Terminamos exaustas e pingando de suor. Alguns artistas vieram conversar com a gente, deram conselhos, opiniões, críticas construtivas. Falaram sobre a palavra, as figuras, o tempo, o improviso. Boas conversas.

Jantamos com a Alice Viveiro de Castro e Nena. Vieram lançar o livro Elogio da Bobagem. São duas figuras inspiradoras, gentes boníssimas. Conversamos um pouco sobre o palhaço e o circo.

segunda-feira, maio 22, 2006



22.05.06 -
Tauá - (CE)

A Firula foi expulsa da pousada porque cagou no corredor, o Trepinha pisou e foi espalhando merda por todo lugar. Digo expulsa, mas expulsa de forma cearense, tudo dito da forma mais tranqüila possível. Na verdade a D. Bebel, dona da pousada disse que ela podia ficar, mas a organização do festival achou melhor tirá-la daqui. Ela foi para uma chácara aqui na cidade. O resto do dia foi calmo. Internet, notícias.

Conversando com Bicolino, ele disse que tinha ido aparar os penúltimos cabelos.

Trepinha e Bicolino são amigos há 32 anos, já trabalharam no mesmo circo, mas nunca contracenaram junto, mesmo porque o trabalho deles é baseado na estrutura : mestre de pista e palhaço. Bicolino trabalha com a esposa. Trepinha, sozinho. Ele mesmo prepara e realiza a piada jogando com o público. É pai do Tiririca. Dizem que ele tem esse nome porque teve 42 filhos neste mundo.

Filmamos e gravamos algumas histórias.

Ele nos mostrou um truque com uma cruz de madeira: ele a deitava na mão e dizia “Vem cruzinha, vem...” e ela ia subindo ficando de pé na mão dele.

Disse que palhaço precisa ter agilidade, saber uns truques, umas “coisinhas”. Falou que ser palhaço não é só pintar a cara e que é uma arte difícil e que trabalhar para crianças é diferente de trabalhar para adultos, assim como é diferente trabalhar na lona e na rua.

No circo assisti um número pela segunda vez, feito por outra dupla: o namoro dos animais.

O mestre de pista convida o palhaço para representarem o namoro dos bichos. Este se surpreende com o fato de que bichos namoram. O mestre de pista explica, então:

_ O boi é marido da...?

_ Bóia.

_ Não! Da vaca!... O galo é marido da ...?

_ Gala.

_ Não! Da galinha!... o touro é marido da...?

_ Tora.

_ Não! Da Vaca.

_ Ei, mas a vaca não é mulher do boi?

_ Sim.

_ E quem é a mulher do touro?

_ A vaca.

_ Humm, que danada!

Continuam a explicação sobre os bichos, falam do que comem...

_ O que o pintinho faz quando acorda?

_ Escova os dentes.

_ Não, ele não tem dentes!

_ Ah... ele não é dentífura?

_Não.

_ Então ele é biquíforo.

(este era o palhaço Xiboquinha)

Uma outra gag que vimos muito por aqui é a do nome de Santos:

O jogo é : para cada nome de santo, uma paulada. Para cada paulada, um nome de santo.

(eles se batem com um batóquio e, sentam a pua sem dó alguma)

O mestre de pista bate e diz:

_ Santa Clara.

O palhaço pega o bastão, bate e diz:

_ Santa Gema.

(de novo o mesmo jogo que vai até o final de cena)

_ Santa Bárbara

_ São Bigode.

_ São Bartolomeu.

_ São Bortoloseu.

_ São Paulo.

_São Rio de Janeiro.

_ São Benedito, o negrinho.

_ São Pelé, o negão.

_ São Bartolomeu, protetor dos motoristas.

_ São Risal, protetor dos bêbados.

O mestre de pista dá agora duas cacetadas:

_ São Cosme e Damião, os amigos inseparáveis.

_ São Cueca e São Calção.

O mestre de pista dá agora 4 porradas:

_ Jesus, Maria, José e a jumentinha.

_ Arnais, Carnais, Pé rapaz e Satanás.

O mestre dá 13 porradas:

_ Jesus e os apóstolos.

O palhaço dá 40 porradas:

_ Ali Babá e os 40 ladrões.

domingo, maio 21, 2006

21.05.06 - Tauá (CE)

Escrevo à luz de vela porque a Juliana está dormindo, passou o dia no quarto pois pegou uma virose cearense. Ficou acabada a bichinha.

Conheci um pessoal de Brasília. Assim que acabou o circo pegaram os instrumentos , juntou uma sanfona daqui, uma violinha dali, outra flauta, um triângulo... o forró durou umas 2 horas.

Essa terra tem muita história de fé e misticismos. É forte estar aqui.

Entendi melhor as histórias de Padre Cícero e Juazeiro, a terra prometida.

As pessoas são assim: você pede uma informação, o camarada responde e no final abençoa: _ Boa viagem, que Deus lhe acompanhe. E não é apenas um modo de falar, é de coração mesmo. Chega a emocionar.

Tinha um palhaço bastante sexual (Palhaço Chupetinha – um moleque, devia ter uns 23 anos).

A gag aqui é toda feita com a palavra, como se eles representassem uma piada. Um pouco na linha do Picolino, mas mais malicioso e sexualmente grotesco.

A mulher fica exposta, é o símbolo sexual.

E, apesar de eu não gostar desse tipo de trabalho, dei boas risadas.

- marina quinan -

sábado, maio 20, 2006

20.05.06 - Chegamos em Tauá (CE)

Clima de festival.

sexta-feira, maio 19, 2006

19.05.06 - Nova Olinda (CE)

Acordamos em Canudos. Conhecemos Álvaro Villela, um fotógrafo baiano que estava no mesmo hotel. Hotel Brasil.

Conversamos um pouco e ele quis ver nossa máquina manual – no que ele disse que era melhor mandar de volta, pois gastaríamos filme à toa porque o fotômetro estava quebrado. Fiquei mal, quase chorei porque vários eletro-eletrônicos que eu comprei deram problema ou eu ainda não sei mexer direito. O megafone novinho, por exemplo, não funcionou. Preciso entender mais sobre essas parafernálias.

Conhecemos a Casa Grande, dirigida pelas crianças e por Lindemberg.

È um centro cultural de referência no Ceará. Falo mais sobre ela depois que voltarmos lá. Marcamos uma oficina e apresentação.

- juliana balsalobre -

quinta-feira, maio 18, 2006

18.05.06 - Canudos (BA)

De Itabuna até aqui a estrada estava boa. Uma reta que cortava o sertão. A paisagem agora mudou completamente. Dá a impressão que quase não passa carro.

Registrar a viagem ainda está difícil porque sempre que consigo pegar e ligar a câmera, a beleza já passou. Começamos alguns testes para a rádio peão gravando depoimentos no gravador. Quando chegamos em Canudos, li a placa do rio Vaza Barris e senti que tínhamos que parar para conhecer. Muito pelas histórias que ouço do meu pai sobre Antônio Conselheiro e a guerra de Canudos, e muito também porque eu estava louca para uma primeira experimentação do nosso espetáculo na rua.Na bifurcação para Canudos, o rapaz disse: _Essa é a pior estrada da Bahia!

E era.

Chegamos na cidade e conversamos com o Secretário de Cultura e com o Prefeito numa conversa que durou menos de 30 minutos. Eles nos arrumaram hospedagem, alimentação e uma chamada na rádio rural que dizia: “Venham todos assistir a dupla de palhaças Las Cabaças de SP às 19:00hs na praça da concha. Tragam suas cadeiras e venham dar boas gargalhadas.”

Ficamos o dia na cidade, conhecemos o memorial de Canudos, passeamos, nos enchemos de sertão e silêncios.

A apresentação foi boa, a Firula participou mordendo o pé da Bifi, todos riam. Havia umas 100 pessoas, mais adultos que crianças.

Conhecemos uma dupla de construtores de estradas que estavam, inclusive começando a recapear a estrada para Canudos. Eles eram uma verdadeira dupla de palhaços: um falava mais que a boca, ficava fazendo brincadeiras de advinha com todo mundo que aparecia na frente, falava rápido que quase não se entendia. O outro não dizia nada, somente sorria tímido. A única coisa que ele falou foi que nos encontraríamos no dia seguinte, na estrada. Foi aí que percebi que eram eles os trabalhadores que nos informaram sobre Canudos. Perguntei há quanto tempo ele conhecia o companheiro. Ele respondeu suspirando: _Há 32 anos trabalhamos juntos.

Uma verdadeira dupla de palhaços!

- marina quinan -

Saímos de manhã. O café da manhã era uma delícia, ovo mexido, calabresa frita, fruta, banana, frutas, frutas, suco de goiaba, café, queijo, presunto.
Passamos pelo Circo Estaner – O circo do Carlitos, mas como era bem cedo, todos estavam dormindo. Pedimos informações para uns varredores e um deles nos disse que o circo não era muito bom, que não achava graça nos palhaços. Disse que já tinha passado circos melhores e que nessa cidade (que fica depois de Santa Luz), era difícil passar 3 meses sem ter circo. Seguimos.

- juliana balsalobre -

quarta-feira, maio 17, 2006


Dia 17/05/06 – De Itabuna à Serrinha

Passamos por uma lona de circo, paramos. Circo Real Espanhol, do palhaço Bolinha.
Não tem nenhum espanhol no circo!
Antes o nome era Circo Alegria, mas ele achou que esse nome era mais pomposo.
Segundo ele, o circo roda todo o Brasil de cidade em cidade.
Ele nasceu no circo, a mãe é viva ainda.
O circo era bem simples, a lona surrada e remendada. Segundo ele, a lona original está em SP para conserto e que cabem 600 pessoas na platéia. Os artistas são em torno de 15, acrescido de uma macaquinha que está sendo treinada para andar no arame e é o único animal do circo, que tem reprise e piada feita por palhaços.
O circo funciona de segunda a segunda de noite e, segundo o Bolinha, lota. Principalmente nos fins de semana.
Fomos apresentadas também ao Bocão, um rapaz simpático que logo puxou a cadeira para eu sentar. Segundo o Bolinha, ele é o carro pipa do circo – que é quem leva água, faz pipoca, ajuda na montagem e desmontagem e além de tudo, dança.
Perguntei quando estaria no Ceará. Ele disse que só daqui 2 anos.
Hoje andamos pouco, problemas de banco, dinheiro que não caiu... burocracias.
Jantamos com 2 caminhoneiros. Um deles perguntou:
_ Quando vocês saíram de SP?
_ Domingo.
_ Ué? O que vocês estão fazendo aqui ainda? O carro de vocês tem quinta ou só marcha ré?
Era engraçado o figura, que ficou curioso para saber quando chegaríamos no Ceará.
Ele queria que mandássemos notícias nossas.

terça-feira, maio 16, 2006

Dia 16/05/06 – De Linhares à Itabuna (BA)

Viajantes andando nos acostamentos. Tudo vai ficando mais pobre. Vi algumas placas que diziam: Precisa-se de alimentos. Chegamos no Hotel Flecha, eu ainda consegui estudar um pouco de trompete, mas não consegui ler uma página do Mário de Andrade.
Dormi exausta. Sono de viajante.
- marina quinan –

É tanta estrada e paisagem que a memória fica meio mareada.
Cadê os coqueiros da Bahia, meu Deus?! Só vejo eucalipto. É claro que depois de um tempo, vai se avistando os coqueiros e bananeiras, chega um momento que é aquela mata linda, muito verde, mas depois ainda avisto mais eucaliptos. No hotel cobraram uma taxa pela Firula de 5,00 reais que foi pechinchada, porque era 10,00. O preço do álcool subiu para 2,26.
- juliana balsalobre -

segunda-feira, maio 15, 2006

Dia 15/05/06 – Do RJ à Linhares (ES)

Saímos 6:30hs e só paramos às 18:00hs. Marina no volante. Via dupla, uma pouco tensa em alguns momentos, mas com uma paisagem bonita. Começam a aparecer coqueiros, morros, muito verde, depois pegamos a rota do sol, que vai beirando o mar. Um trecho pequeno, mas foi bom ver o mar – lindo!
O mar faz a gente sentir que estamos passeando. Firula está bem, já está se acostumando com a vida nômade. Hoje dirigi durante umas 3 horas, não sei bem. Estou gostando de dirigir, parece que isso traz uma confiança.

A paisagem foi mudando, os sotaques também. Vitória é uma cidade linda. Aliás, quem nasce em Vitória é o quê? Estamos num hotel de beira de estrada, muitos caminhoneiros. O lugar é bem familiar, apesar dos olhares estranhando duas mulheres e uma cachorra ali. A Firula já vai fazendo amizades. Engraçado todos aqueles homenzarrões sentados na frente da TV assistindo novela! Eles riam de coisas tão bobas.
- marina quinan -

domingo, maio 14, 2006

Dia 14/05/06 –Aniversário da Biti e início da viagem.

Saímos de São Paulo 12:00 hs.
Juliana guiou até o Rio de Janeiro e antes de entrar na cidade paramos para dormir. Era noitezinha. Estou agora escrevendo sentada na privada de um hotel com cara de motel.
Beira de estrada. Entramos com a Firula e todos os funcionários se derreteram com ela que está dormindo no quarto conosco. Está bem cansada, estamos. Numa hora que fui atender ao telefone, sem querer deixei a Firula pra fora do quarto e logo mais o funcionário veio entregá-la, com o rabinho abanando.
Nosso carro está mais vazio do que eu imaginava. Trouxemos realmente só o essencial.
- marina quinan -