Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

quarta-feira, agosto 30, 2006

Dia 30/08/06 - Belém (PA)
Acordar hoje foi difícil. Fomos dormir tarde, pois ficamos conversando com meu pai até às 2 da manhã. Saímos com João para uma peregrinação na cidade: Teatro Waldemar Henrique, Funbel, Sesc, comprar passagem de barco para Santarém... Almoçamos no mercado Ver-o-Peso (ponto fundamental para quem vem aqui em Belém com muitas barracas vendendo coisas: artesanato, comida típica, ervas de todo tipo, poções milagrosas...) Comemos maniçoba, açaí, jambo e caruru. Haja! A maniçoba é uma pasta feita da folha de mandioca (maniva), cozida por 7 dias. Se cozinhar menos que isso é veneno puro. O gosto é ótimo, mas o aspecto, horrível: parece bosta de vaca. Eu posso afirmar que a maniçoba é uma espécie de comida-entidade. Dá até medo.

terça-feira, agosto 29, 2006

Dia 29/08/06- Belém (PA)
Quando chove aqui em Belém, as pessoas cortam uma Mariazinha (recorte de papel em formato de menininha) e pregam atrás da porta. Dizem que se ela fizer parar de chover, levam-na pra passear e até lhe arrumam um namorado. Se a chuva pára, as pessoas saem pra passear e levam a Mariazinha dentro da bolsa.
Hoje à noite encontramos o João (palhaço de um grupo chamado Notáveis Clowns) no bar do parque. Conversamos bastante sobre tudo: palhaços, gags, os grupos de Belém, a necessidade de viajar, as belezas deste lugar, a comida... ele nos deu dicas, sugeriu comunidade para visitarmos na Amazônia e vai nos dar uma força para que consigamos trabalho aqui, nos propôs também de fazermos uma viagem juntos com a rural do grupo deles, nos apresentando. Tomara que dê certo, eu queria muito.
Combinamos de passar o dia juntos amanhã. João é um excelente palhaço e pessoa querida.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Dia 28/08/06 - Belém (PA)
Conseguimos uma apresentação no espaço cultural São José Liberto para dia 12 de novembro.
Marcos Quinan está nos ajudando a organizar nosso material. Vai selecionar as melhores fotos que tiramos, transcrever as fitas cassetes que gravamos, além de outras coisas. Vai aqui o nosso muito obrigado a ele.
Fui passear com Firula que estava saudosa.

domingo, agosto 27, 2006

Dia 27 /08/06 - Belém (PA)
Fomos até a praça da República, hoje é domingo e tem uma feira de artesanato. Queremos fazer uma roda de rua e lá é um lugar propício. Avistamos uma roda, muita gente, chegamos perto. Quem estava se apresentando era o Índio Chiquinha. Eu já o havia visto em Porto Alegre há uns 3 anos atrás. Ele usa uma calça e um curto colete feitos de retalho, uma botina, uma chiquinha na cabeça, e na orelha uma pequena boneca de plástico como brinco.
A apresentação: ele utiliza uma caixa de som e microfone, coloca Raul Seixas e músicas country para tocar, dança e dubla. Com um par de castanholas, ora galopa, ora mexe os quadris, dá pausas de suspense como quem vai realizar um grande feito e nada faz. Um sujeito que sobrevive da rua passando o seu chapéu.O povo gosta e paga. A praça era concorrida: saia um e entrava outro.
Voltamos ao apartamento e nos vestimos. Sapatos, cabaças, maquiagem. A coisa mais bonita foi ver o pai da Marina vendo ela vestida de palhaço, ele riu igual criança quando viu os seus enormes sapatos. O pai que se diverte com a graça da filha. Eles são belos.
Las Cabaças vão a praça. Resolvemos experimentar uma entrada curta. Tinha bastante gente e fomos aplaudidas, era o momento de passar o chapéu, ou melhor a cabaça, mas me intimidei com essa tarefa, resisti, perdi o tempo. Mesmo assim passei a cabaça, ninguém colocou nada, até que Quinan diz:
_ Bifi,é que sua cabacinha é muito pequena, a minha é melhor. É uma cabaçona.
E se pôs a passar sua cabaça, bem maior que a de Bifi. Muitas pessoas foram colocando dinheiro. Voltamos suadas e com as cabaças fazendo tlimtlim.

sábado, agosto 26, 2006

vitória régia

Dia 26/08/06 - Belém (PA)
Dia para fazer planejamento, rever o nosso caminho até aqui. Agora vamos focar no desenvolvimento do nosso espetáculo: Lá, ou de onde nascem as palavras.
À noite fomos na praça do Carmo assistir a um show em homenagem ao aniversário de 90 anos de Verequete, um mestre do Carimbó. Primeiro ele cantou com seu grupo, depois vários grupos tocaram suas músicas.
Tomei tacacá, caldo forte e saboroso. Ingredientes: caldo da mandioca, que é o tucupi, goma, camarão e jambú, uma verdura que deixa a boca formigando, dormente.

sexta-feira, agosto 25, 2006

urubus na chuva

Dia 25 /08/06 - Belém (PA)
Dona Lucila é o nome da senhora que trabalha aqui e faz uma comida saborosíssima. Nosso enorme agradecimento a essa artista da cozinha, dos temperos, dos sabores. Se depender dela nosso bucho vai crescer.
Saímos para verificar as pautas para apresentar nosso espetáculo, Semi-Breve. Fomos até um espaço cultural chamado São José Liberto, que antigamente era o presídio São José. Agora Liberto. Marcamos com a responsável para segunda-feira.
Depois fomos na Estação das Docas, outro espaço cultural, mas não conseguimos nada, pois a pauta tinha sido fechada no dia anterior.
-juliana balsalobre-

quinta-feira, agosto 24, 2006

arara

tartarugas tomando sol

árvores ao vento

Dia 24 /08/06 - Belém (PA)
Aqui no apartamento moram o pai da Marina e a Roseli, que nos receberam com muita acolhida. O apartamento é bonito e aconchegante. Nas paredes muitos quadros, alguns pintados pelo próprio Quinan que é pintor, escritor e compositor; e são os seus quadros os que mais encantam meu olhar. O que ele pinta é tocante. Na sala uma estante com muitos livros e CDs. Guimarães Rosa, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Câmara Cascudo, Euclides da Cunha, Patativa do Assaré, Mario de Andrade, só para citar alguns autores. Da parte musical, Villa Lobos, Antonio Carlos Jobim, Egberto Gismonti, Chico Buarque, Milton Nascimento, Chico Mario, Gonzagão, Dorival Caymmi, Paulo César Pinheiro, Ceumar, Uakti, Elomar, Walter Freitas, Eudes Fraga...
Sem falar nos livros e CDs de sua própria autoria.
Marina me levou para conhecer o museu Emílio Goeldi, que é um parque zoobotânico com as espécies de animais e árvores da Amazônia. Uma maravilha as árvores centenárias! Vimos jacarés. Marina se divertia com um que ficava de boca aberta embaixo de uma cachoeirinha d’água.
Fomos até a Basílica de Nazaré, bela. Quando chegamos estava acontecendo uma missa e capturamos uma frase do padre que dizia: Segura na mão de Deus e vai.
Fomos...
De noite, Marcos nos levou até a Casa das 11 Janelas, um bar- restaurante que fica na frente do rio Amazonas.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Basílica de N. Sra de Nazaré - Belém -PA

Dia 23/08/06 - Belém (PA)
Despedida da minha querida irmã Mariana, que acordou as seis da manhã para nos dar o seu adeus.
Adeus São Luis do Maranhão...
Pegamos o Ferri-boto que nos economizaria mais ou menos duzentos quilômetros de estrada. Descemos em Cujupe e seguimos 480 Km até Belém. Chegando no estado do Pará a estrada fica um “tapete” e as casinhas de pau a pique vão dando lugar às de madeira. Chegamos na cidade das mangueiras às quatro horas da tarde. Fomos até a casa de Marcos Quinan, pai da Marina, artista e grande pessoa. Ficaremos hospedadas em seu apartamento. Antes fui deixar a Firula num hotelzinho para cães e esta, já arrumou um companheiro de nome Peteleco.
O prédio em que seu Marcos Quinan mora fica próximo a Praça da República, uma linda praça com coretos, muitas mangueiras e o teatro da Paz que tem uma arquitetura antiga. Segundo o pai da Marina essa é a praça mais bonita do Brasil. A filha concorda.

Chegamos na casa de meu pai. Comemos kibe frito por ele, regado a boas conversas sobre arte, cultura e vida. Ele me mostrou as novas músicas. Isso é uma espécie de ritual quando se chega aqui em Belém, pergunte aos meus irmãos.
-marina quinan-

terça-feira, agosto 22, 2006

Dia 22/08/06 - S.Luis (MA)
Odeio essas canetas que se ganha de brinde! Normalmente falham, escrevem só um pouquinho deixando a palavra com frio na barriga. Nunca se sabe se ela chegará ao fim.
Por quê as palavras são tão inconstantes assim? Não poderiam facilitar?
Minha cabeça não inaugura nenhuma frase.
Já gastei metade de mim que era um pote cheio. Quando eu percebi já era assim, adulta. E eu conseguia até escrever, desenhar, mas agora: nada! Silêncio. Quietude. Vida grande essa que não se explica. E o que é o amor? Algo que não nos deixa dormir. Alma profunda é difícil de se ter, vai longe mesmo. Volta? Não sei, mas acho que algumas pessoas sabem. Dá pra notar no jeito da pessoa, estando assim, calmo, se vê nos olhos. Eu sou assim. Não tem fim.
Voltando às coisas práticas: não fiz nada de útil hoje.
-marina quinan-

segunda-feira, agosto 21, 2006

Dia 21/08/06 – S.Luis (MA)
Nessa viagem não há descanso, não há subterfúgios, não há nada que alivia. Às vezes com vinho melhora, mas o calor é tamanho que muitas vezes o feitiço se vira. Estamos vivendo numa situação limite o tempo todo, sem “piques”, sem tempo de descanso. Por mais contraditório que isso seja, pois viajar é o estereótipo de descanso. Mas essa viagem é outra coisa. É limite o tempo todo. Limite emocional, físico, espacial... e eu tenho uma tendência estética para a vida em que preciso de músicas boas, belezas e paixões. Ouvi Vinicius de Moraes. Ai meu Deus, isso faz todo sentido! Salve os abençoados pela graça da alegria e da poesia!
Alma de boi chora tão manso...
-marina quinan-

domingo, agosto 20, 2006

Dia 20/08/06 – S.Luis (MA)
Apresentamos nosso espetáculo Semi-Breve na casa de Mariana, Priscila e Ana Paula, onde ficamos hospedadas todo esse tempo. Foi nossa paga pela durmida que nos deram. Chamamos a vizinhança com mega fone e isso foi bem divertido. É potente demais um mega fone nas mãos de um palhaço. Vieram todos com suas cadeiras e de banho tomado.
Souza é vendedor de cachorro quente e apoiador das artes. Ele veio ver nossa apresentação e até participou. Ele apóia com dinheiro e com cachorro quente mesmo.
_ “Venham ver as palhaçadas de Bifi e Quinan. Não é campanha política. É palhaçada mesmo!”

sábado, agosto 19, 2006

Dia 19/08/06 - S.Luis (MA)
Estórias gravadas em gravador chiando. São palavras do palhaço Trepinha.

Eu passei uns quarenta minutos contracenando com meu mestre de pista e o povo não ria, eu suava, eu suei... e o povo não ria - que diabo é isso? O mestre:
_ Comé que a gente faz?
Uns quarenta minutos... e o povo não ria. Não tem jeito, eu vou dar um fim. Aí, voltei pra orquestra, perguntei:
– Qual é a pessoa mais conhecida daqui da cidade, o mestre da banda disse: é Casturina. Casturina era uma mulher que botava apelido em todo mundo na cidade, aqui no Aracati.
Ai eu vim de lá chorando... uaá... uaaá...uaaá... o mestre já sabia o que era:
_ Trepinha o que é isso, você chorando, foi sua mãe que morreu?
_ Muito pior.
_ Foi sua namorada que acabou?
_ Muito pior... uaá... uaaá...uaaá...
_ E o que foi que aconteceu?
_ Ah meu senhor... é que depois que eu cheguei aqui, o povo tá dizendo que minha cara é igual ver a cara da Casturina.
_ Aí o povo, ha...ha...ha... sai dessa Casturina! ha...ha...ha...

sexta-feira, agosto 18, 2006

Dia 18/08/06- S.Luis (MA)
Palavras de Pedro José Dinis nascido em São José do Egito:
- O que eu faço fica feito e o que eu digo fica dito
e aonde o fazendeiro está, não tem lugar esquisito
mas se eu pudesse nos daria a riqueza do país
o céu bordado de estrela em uma manhã primaveris
e duzentos anos de vida com Pedro José Dinis –

- Marina e Juliana causam minha admiração
na volante de um carro de dia ou na escuridão
fazer parte da vida de vocês é uma grande emoção
o palhaço é feliz da vida todo tempo só existe alegria
vocês são duas meninas belas adorei suas simpatias
Deus que ilumine vocês toda hora do dia –

- Não aceito desaforo
não sou rico nem sou pobre
nem tenho barra de ouro
e admiro um sertanejo todo vestido de couro –

- Gosto de pescar, mas gosto de peixe não –

quinta-feira, agosto 17, 2006

Dia 17/08/06 - S.Luis (MA)
Seu Peó, pescador de Alcântara me contou que recolhe coisas do mar. Tudo que o mar traz, ele pega. As coisas é que chegam até ele. Um dia encontrou uma boneca inflamável que caiu de um navio vindo da Coréia. Ela até abraçava e beijava, era só encher soprando ou com uma bomba de bicicleta. A boneca ficou na casa dele e todo mundo da cidade foi ver, para acreditar nas façanhas que ela podia. Depois de certo tempo, perdeu a graça e ele deu a boneca pro circo que passou. Disseram que o dono anunciava diariamente que ia mostrar a boneca e não mostrava. No último dia mostrou. O circo estava lotado.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Dia 07/08/06 – S.Luis (MA)
O Jurará morreu. Acho que foi por causa do remédio de formiga. Eu e Mariana minha irmã enterramos. O corpinho dele, já deteriorado e o casco forte, bonito. Jurará e o casco. Casquinho de Jurará que fica e sua alma vagarosa que se vai. Devagarzinho vai para o céu. Pequeno Jurarazinho. Jurará da Mamá.
Lavar roupa não é tarefa fácil. Viva as grandes lavadeiras que ficaram para a história da vida e não dos livros. Marias, Sofias, Inás, Clotildes... Minhas roupas sujam demais. Que técnica para conseguir remover a sujeira? Coisa chata é pernilongo. Já mudei umas 4 vezes de lugar e eles vem junto. Picam e Zunem. Sai pra lá! Penso sobre nosso processo de criação: construir na itinerância. Pra onde agora? Pensar com pernilongo é outra coisa. Tudo com pernilongo é mais difícil. Eles são os culpados de tudo! Estou adorando meu caderno novo, é de desenho. Estou me sentindo a desenhista das letras.
- juliana balsalobre -

domingo, agosto 06, 2006

Dia 06/08/06 – Frechal (MA)
Dia da partida. Difíceis despedidas, como sempre.
Duzinha perguntou se íamos por cima ou por baixo (existem dois caminhos para lá: o de balsa é mais perto). Ela disse que não anda de barco nunca, nunquinha. A única vez que foi para Alcântara, fez sucesso no barco: gritava, chorava, vomitava. Fomos por baixo.
Viagem de carro e barco, preguiça, cansaço, conversa boa com Gabi. Ela é pessoa, como diria D. Duzinha.
Jantamos para despedir dos Gabriéis que vão embora amanhã. Lindos! Foram um presente para nós. Vieram e foram. Pueris. Trouxeram vida e amizade - nossos abrigos em tempos áridos.
Voltar à Frechal foi bom, avançamos, aprofundamos.
Foi a primeira vez que voltar significou ir.

(...) ele estava tentando diverti-los e alegrá-los e a impossibilidade faz o palhaço – ele estava dando por amor, por puro amor – Amor! Uma cambalhota para diverti-los. Ah, divertir os outros é um dos modos mais emocionantes de existir, é verdade que às vezes os artistas de rádio se exacerbam e se suicidam, mas é que às vezes se entra em contato com a dificuldade do amor (...)
(Clarisse Lispector)

sábado, agosto 05, 2006

Dia 05/08/06 – Frechal (MA)
Duas crianças (Paula Beatriz Mondêgo Maia e Kênio Fernando Araújo Silva) fizeram um desenho no caderno da Ju. Eles desenharam duas palhaças com cabaças e escreveram ao lado: Quinan e Bifi a Roleira (Bifi à Role).
Acordamos, conversamos sobre o roteiro do espetáculo e como desenvolvê-lo. Fomos à praia de Oiteiro, município de Cebral. Jogamos sinuca e tomamos cerveja. À noite fomos à pé na festa do arroz em Rumo (quilombo vizinho). O caminho era lindo, cortava os quilombos. Noite de lua e silêncio cortado pelas radiolas de reggae. A festa estava bonita, mas não demorou muito o sono chegou. Um cansaço forte, dor no pulso e joelho, mas uma alegria forte de estar aqui.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Dia 04/08/06 – Frechal (MA)
Acordei bem cedo para ir à Mirinzal comprar peixe para o almoço. Fomos: Jorge, Lia, Firula, uma moça que pegou carona no caminho e a encomenda de 1 kg de ração para pintinhos. Jorge conhecia muita gente em Mirinzal:
_ ê cumé?
_ ô
Cumprimentavam-se.
Ensaiamos, almoçamos e depois, a cesta. As crianças chegaram trazendo aquele estalar de gritinhos, risadas e pisadas no chão de madeira: característica típica das crianças quando chegam no casarão. Jorge levantava pra ralhar. Elas obedeciam.
Fomos nadar no rio. Na volta encontramos uma família em cima do carro de boi, as crianças pegaram carona até mais ali adiante. Firula correu atrás de porco e vaca. Os cachorros, ela só cheirava.
De tarde teve campeonato de futebol feminino. Nosso time perdeu a partida.
De noite apresentamos um ensaio improvisado, com números novos e a cena do Lá modificada pelo trabalho com Gabriel.
Começamos com a gag de quem vai falar (par ou ímpar), Lá, Reticências, Diamantina, Salto no copo d’água e Soldado. O ensaio foi acabando aos poucos. Voltamos muitas vezes procurando o fim que não aconteceu.
Teve um momento na cena do salto no copo d’água, (Quinan interrompe Bifi sempre que ela vai saltar) que um menininho disse:
_ Pára ô! Deixa ela pular!
D. Duzinha durante o espetáculo fica séria, não me olha nos olhos, sinto que ela gosta mais de ficar conosco quando estamos “normais”. Depois que acabou a apresentação e todos foram embora ficando apenas nós, Duzinha, Josimar, Jonas, Jorge e duas crianças, ela lembrava de algumas passagens e dava risada como criança. Até cantou e dançou Congo.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Gabriel com as crianças

Dia 03/08/06 – Frechal (MA)
Ensaiamos e as crianças apareceram. Assistiram quietas e curiosas, mas quando o ensaio acabou, correram com a Firula por mais ou menos 3 horas! Eles corriam e ela corria atrás para morder o pé deles.
Juliana foi de carro no quilombo Aliança buscar 3 meninas do time de futebol para o treino. Marina foi fazer massagem nas costas de D. Duzinha. Ganhamos laranjas.
Noite. Casarão, pipoca, conversa.
Junior contou que antes todos viam e ouviam a mãe d’água que passava pelo Quilombo. Uma mulher negra nua, linda. Dava um assobio e passava, indo para outro Quilombo. Mas depois que chegou a energia elétrica, ela não apareceu mais.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Dia 02/08/06 – Frechal (MA)
Acordamos e ensaiamos até de tarde. Visitamos D. Duzinha.
_ Como vai D. Duzinha?
_ Mais ou menos. Mais para menos. Fiquei ruim com dor nas costas.
...
_ Aqui tem criança a miúdo e a graúdo.
As crianças estavam tirando pulgas de todos os lugares possíveis: da cabeça, umbigo, pescoço. Elas me davam esperando minha reação. Queriam ver se a pulga ia falar ou não (eles mesmo faziam a voz miudinha da pulga), de era macha ou fêmea, a cor, o que ela ia ser quando crescer. Umas seriam pato, galinha, urubu, lápis, bailarina, vassoura,... eles olhavam na minha mão e afirmavam o que eu dizia.
D. Duzinha não gosta de língua africana porque parece que só falam a palavra pela metade. Ela contou que na semana passadas vieram dois palhaços aqui, maquiados como nós. Perguntei tudo. Ela disse que eram crentes, davam brinquedos, faziam brincadeiras com as crianças e cantavam músicas de Jesus. Perguntei às crianças se tinham gostado. Os menores responderam que sim. Outro, de mais idade, que estava na bicicleta disse com cara fechada:
_ Eu não achei a menor graça!
Vimos S. Bié passar com o carro de boi lotado de crianças. Iam buscar o arroz colhido no dia. A Firula e as crianças nadaram no rio em frente da casa de D. Duzinha. Todos pelados e a Firula feliz.

terça-feira, agosto 01, 2006

Dia 01/08/06 – Frechal (MA)
Bom, um dos motivos de voltarmos pra Frechal é para mergulharmos num processo criativo e desenvolver a cena do Lá. Gabriel Carmona é meu grande amigo e pessoa que admiro muitíssimo pelo seu trabalho (ator e diretor de teatro). Gabriela Cordaro é atriz de olhar refinado e grande sensibilidade. Vieram passar férias, mas principalmente nos ver e ajudar no processo. São pessoas muito queridas.
Saímos de S. Luis de carro desta vez, melhor para levar nosso material: Eu, Marina, Gabriéis e Firulinha.
A travessia do Ferry-Boto é de 01:15 hs de S. Luis à Cujupe. Eu peguei a Firula e já fui logo descendo, pois ela estava agitada. Ninguém me avisou que ali era puro mangue, ou seja: Eu e a Firula afundamos! Afundei até um pouco acima do joelho. Por quê sempre acontece essas coisas comigo?
“Afinal pode-se dizer que ele estava realizando tudo o que planejara, mesmo que não tivesse conseguido anotar no papel o que queria.”
(Clarisse Lispector)

Seguimos de carro. Estrada, boas conversas, muita risada e bobagens. Paramos em Mirinzal para comprar escova de dente e o dono do mercadinho me reconheceu, lembrou das palhaçadas no casarão e disse que éramos bastante criativas. Chegamos à noitinha, Jorge nos esperava no casarão. Jantamos macarrão. Jonas e Fábio apareceram.