Las Cabaças

Duas palhaças em pesquisa prática sobre os palhaços do norte e nordeste brasileiros.

Nome:
Local: Belém, Pará, Brazil

sábado, setembro 30, 2006

Abaré, o barco-hospital

Dia 30/09/06 – Barco ancorado em Santarém (PA)
O barco chegou em Santarém às 2 da manhã. Continuamos dormindo até amanhecer. Conhecemos o barco Abaré, o novo barco-hospital do Projeto Saúde e Alegria. É um barco financiado com verba holandesa, tem dois consultórios, sala de espera, laboratório, farmácia, sala de dentista... Viajaremos nele daqui uns 3 dias.
O bom filho a casa torna. Saímos do hospital, nos Doutores da Alegria e agora, retornaremos a um hospital. Só que este, sobre águas.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Dia 29/09/06 – Cachoeira do Aruã (PA)
De noite choveu, pingou na maloca. Tivemos que esperar a chuva passar em pé, levantando para não molhar. A única rede que não molhou foi a de Ricardo, que de manhã me presenteou com uma cena inesquecível, engraçadíssima: Ricardo é um homem cavalheiresco, sereno, calmo, sensível, com gestos e voz suave. De manhãzinha ele ainda estava deitado na rede e uma galinha subiu na mesa que estava ao lado, para tentar bicar sua nariz. Ele, sem se levantar, movendo apenas um braço, deu um tapão nela que voou longe cacarejando. Dei risada por uns 3 dias.
De palhaças, visitamos Isaura que morava longe e não pode assistir a apresentação ontem. Ela fazia farinha com a família. Sua netinha ficou amedrontada, tivemos que partir rapidamente. Tomamos nosso último banho de cachoeira do Aruã, apanhamos cajus e voltamos de voadeira para o barco. Neste percurso o motor pifou e tivemos que finalizar a jornada remando.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Juliane e Marina


Juliane


Dia 28/09/06 – Cachoeira do Aruã (PA)
Faz um dia fresco, nublado, chovendo pinguinhos de vez em quando. Estou na rede lendo. As galinhas vêm aqui de quando em quando me olhar com seus pescoços frenéticos e triangulações absurdas. Galinha é um bicho Pantaleônico mesmo!
Durmo, acordo, leio, durmo, escrevo frases espaçadas, durmo, levanto, tomo suco de taperebá, deito novamente, leio, durmo...
Salve a preguiça e os dias amazônicos nublados!
Ontem nós conversávamos sobre nossa intervenção, refletindo tudo que acontecera e Andressa, uma menina de 9 anos ouvia tudo. Ela disse:
_ Vocês conversam agora porque na hora em que vocês estão de palhaças não pensam, né?
Hoje o dia foi de colher caju, banhar na cachoeira, comer, descansar, observar, pensar, conversar e brincar no parquinho com as crianças.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Semi-Breve

Dia 27/09/06 – Cachoeira do Aruã (PA)
Dia de São Cosme e Damião e do aniversário da Juliana. Parabéns pra Juju, muitas alegrias, saúde e amor.
Acordamos com a notícia de que o casco do barco tinha sido roubado, mas na verdade estava do outro lado do rio, mais abaixo. Alguém usou para atravessar.
Saímos de palhaças. Na descida para o igarapé encontramos 3 menininhos. Perguntei:
_ O que é que tem lá?
_ Um igarapé.
_ Um lugar que dá muito pé?
_ ???
_ Eu vou logo rápido ver se encontro um tamanho 48 assim ando mais rápido.
_ Igarapé é lugar que dá pé de todo tamanho, pé grande, pé filhote, pé 35, pé 42, pé de limão, pé de caju...
Os meninos não saíram mais de perto de nós, curiosos para ver o que faríamos.
Atravessamos o igarapé e estivemos por meia hora na casa de Ana, marido e filhos. Foi uma bela intervenção, com bons jogos improvisados.
Depois visitamos Maria Severina de Andrade, que viu palhaço pela primeira vez. Ela nos ensinou a fazer farinha de mandioca. Palhaceamos enquanto cortávamos e descascávamos mandioca.
Nesta hora o calor já estava insuportável. Fomos banhar na cachoeira para aliviar.
No fim do dia, com o por do sol, apresentamos o Semi-Breve no campo de futebol da escola. Todas as crianças estavam sentadas na arquibancada de madeira.

terça-feira, setembro 26, 2006

Pedro e o barco escolar

Dia 26/09/06 – Cachoeira do Aruã (PA)
Tivemos essa noite de sono com o barco parado em Urucuriá. Acordei às 5 horas com o sol nascendo. Levantei para ver aquele laranjão que vinha vindo.
Chegamos às 10 horas de carona com o barco escolar. O outro teve que parar antes porque o rio estava seco. O comandante chamava-se Pedro.
_ seu Pedro, o senhor é católico?
_ sim, cismei com isso.

Tomamos banho na cachoeira, depois no igarapé, conhecemos Graça, Andressa, o padeiro Jurandir, sua filha Juliane, conhecemos a movelaria, marcamos uma apresentação para amanhã, comemos caju do pé, tomamos mais banho de igarapé, conhecemos Maria Severina de Andrade que tem 95 anos e ainda vai pra roça. Ela nunca viu um palhaço e nem sabe o que é. Conhece essa região há 1 século!
_ O que mudou nesse tempo todo em que a senhora está aqui?
_ Ah, antigamente não tinha essas facilidades de bois. Antes a gente é quem carregava a mandioca no lombo mesmo... a gente é que era o boi...
e ria.
Cachoeira do Aruã é uma comunidade com 52 famílias, com energia elétrica há 4 meses. Fica localizada na fronteira, como dizem. É rota de soja plantada clandestinamente, desmatando tudo. Contam casos de furtos e violência na mata.
A praça é cheia de brinquedos de madeira e pneu. Balanço, gangorra, trepa-trepa. Sempre tem alguém brincando, principalmente à noite que é mais fresco.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Dia 25/09/06 – Barco rumo à Cachoeira do Aruã (PA)
Página em branco: vida a escrever.

domingo, setembro 24, 2006

Dia 24/09/06 – Santarém (PA)
Lembrei muito do meu querido avô Manuel, jornalista, criatura amorosa que freqüentemente nos mandava cartas datilografadas em sua antiga máquina de escrever. Ele me inspirou a usar bota de palhaça que uso, com um furo lateral para modo de caber o sexto dedo. A joanete. Meu avozinho querido morador da casinha azul que fazia formiguinha na gente, que gostava de conversa e andava de bengala. Ai que saudade desse homem-vô.
E o tanto tanto de um tamanho. Toda hora muda a forma, a cor, o cheiro. Toda hora me indefino no fino que sou. Sou fim a cada dia. Sendo assim começo sempre. Queria agora é saber do meio.
-juliana balsalobre-

sábado, setembro 23, 2006

Dia 23/09/06 – Santarém (PA)
Acordamos às 3 horas para pegar o ônibus de volta. Era noite ainda, céu estrelado e o som dos bichos no silêncio da noite. O ônibus veio vindo, dava pra ouvir de longe o motor velho barulhento, as correias gritando na hora da curva e o poeirão levantado. Sentamos na frente que a poeira era menor. Era o mesmo motorista e o mesmo cobrador que ajudava um por um a carregar suas sacolas. Chegamos a Santarém amanhecendo. No momento em que um passageiro ia descer, o cobrador perguntou a quanto ele estava vendendo o mocotó. Era a 2,50; despediram-se. Ainda houve tempo de escutar o comentário do motorista dizendo que o mocotó da Fulana era só 1 real.
Descemos.
Boa gente esse nosso povo. Vi cenas lindas: cachorros de orelhas tortas espreguiçando-se ao ouvir o ônibus, sombras das árvores e estrelas sumindo devagar enquanto o sol chegava, mulheres sonolentas varrendo quintais, cobrador limpando os bancos do pó para as pessoas sentarem...
Chegamos à casa de Magnólio às 7 da manhã.
Tomamos açaí.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Pedrinho e Marina


Juliana diante da Samaúma

Dia 22/09/06 – Jamaraquá (PA)
Acordamos às 6 horas, tomamos café com cará e batata doce e partimos para uma caminhada na mata primária. Seu Pedrinho foi nos mostrando as plantas medicinais e contando estórias. Chegando num formigueiro gigante feito no tronco da árvore, ele bateu com o facão e todas as formigas saíram afoitas para proteger sua casa. Colocou a mão perto, elas subiram na mão dele que as esfregou matando-as. Me deu para cheirar. Era o repelente natural usado pelos índios.
Com a folha da pitomba na mão, disse que quando a criança demora a falar é só quebrar a folha na boca aberta que ela fala rapidinho.
Mostrou o cipó-escada-de-jabuti que é bom pra diarréia, a sucuba-expectorante, a jutaí-seca para diabetes, o cumaru para pneumonia...
Seu Pedrinho adora este lugar.
_ Quando nós não temos o que fazer, inventamos de fazer fogueira na praia, dormir na mata, nadar no igarapé. O que não pode é a pessoa ficar sentada no sofá assistindo TV ou pensando na vida porque a cabeça gasta o corpo.
Mostrou-nos um líquido que pinga e ninguém sabe de onde vêm. Dizem que se cai na cabeça, a pessoa fica careca.
Diante da gigante samaúma de 14 metros de diâmetro nos contou que o compadre Santana, durante uma festa comemorativa entrou na mata e caçou um porco às 18:00 hs. Quando procurou o caminho de volta não encontrou. Avistou uma pessoa que parecia ser seu cunhado dizendo que ia mostrar o caminho. O cunhado ia à frente passando para trás uma cuia com bebida, parecia cachaça. Não mostrava o rosto, só passava a cuia de costas. Caminharam muito sem chegar a lugar algum. Quando foi 4 da manhã, Santana desconfiou: era a Caipora. Pediu licença para cagar no mato, deixou o porco que havia caçado e fugiu. Compadre Santana voltou para a comunidade cambaleando e desde esse dia enlouqueceu. Tinha que viver amarrado, senão fugia pro mato. Foi preciso muita reza de curandeiro para que ele voltasse ao normal. Hoje, compadre Santana já é falecido.
A mãe do mato é o espírito protetor da mata. Ela espalha fogo de fogueira de acampamento e sacode rede derrubando as pessoas no chão. Tem gente que deixa pinga e cigarro pra agradá-la. Quem mexe com a Caipora nunca mais consegue entrar em mato fechado porque sente fortes dores de cabeça.
Voltamos pra casa e à noite apresentamos à luz de velas e lamparinas.Jantamos na praia embaixo do céu estrelado, fizemos uma piracaia (peixe assado em brasa de fogueira).

quinta-feira, setembro 21, 2006

Dia 21/09/06 – Jamaraquá (PA)
Saímos para nosso estudo prático. Marina de manhã e Juliana de tarde. Tudo registrado. Almoçamos arroz com urucum, tucunaré frito, feijão com jerimum e pimenta de tucupi.
Seu Pedrinho é um homem forte, baixinho, troncudo, tem 55 anos, mas parece mais novo que isso, tamanha sua disposição e agilidade para a vida. Conhece muito dos homens e das plantas. Como líder comunitário já viajou bastante. Foi para Europa, São Paulo e Rio de Janeiro mostrar um pouco da vida na Amazônia, ele é também puxador – coloca as juntas no lugar.
Passamos o meio dia, hora do calor que amolece, na rede lendo e escrevendo. Tomamos banho no igarapé e de noite fomos à praia fazer fogueira e esperar o filho de Seu Pedrinho, o Pedro-filho que fora à Piquiatuba de rabeta levar o funcionário para consertar o orelhão.
Nós: Marina, Juliana, Dona Conse e Seu Pedrinho esperávamos para ajudá-lo a atracar a canoa. Conversamos sobre a Amazônia, sobre remédios naturais, sobre peixes... Dona Conse nos contou que já matou uma surucucu com um tesado (facão)... até que adormecemos os quatro deitados no lençol na areia. Pedro-filho chegou e nem vimos. A mãe foi a primeira que acordou, foi esquentar comida pro filho. Acordamos todos e fomos para as redes. Ouvimos o macaco guariba urrando.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Dia 20/09/06 – Jamaraquá (PA)
Acordamos, arrumamos as mochilas que estão sempre prontas, o que muda é uma saia, ou outra; ora umas camisetas, ora outras. Fomos a pé para o ponto de ônibus, parando apenas para tomar um açaí matinal. Andamos 4 quarteirões e o calor já chegou no ápice. Chegamos ensopadas, vermelhas de suor. O ônibus atrasou 1 hora para chegar e outra hora para ser carregado de mercadorias. Enquanto isso cada um se apressa em marcar seu lugar com uma sacola, bolsa ou qualquer outro objeto. Todos respeitam. Saímos às 13:00hs. No fundo do ônibus o espaço reservado para cargas leva tijolos, sacos de farinha, muitas compras de supermercado, óleo, carne, sabão em pedra...
Dona Conse (esposa de Seu Pedrinho, líder comunitário que nos abrigará em sua casa) escolheu nossos lugares:
_ Deste lado não bate sol.
A viagem de ônibus é o momento onde muitas pessoas se reencontram. Cumprimentam-se, querem notícias dos filhos e familiares. O povo tem uma vida dura demais. Enfrentam 5 horas de ônibus em estrada de terra para fazer suas compras e seguem vivendo essa labuta cotidiana de forma digna e alegre. E eu aqui, sentada, quase derretendo de calor.
É bom ser palhaço e estar junto dessa gente.
Dona Conse tinha uma pequena toalha em suas mãos. Ela limpou os bancos e me mostrou como fazia para tirar um cochilo durante a viagem. Era só colocar a toalha e encostar. Ela fez o gesto e fechou os olhinhos, simulando.
Passando por Belterra, paramos por alguns minutos para deixar a Bernadete na casa dela. Um jovem estava tomando banho na parte de fora. Todos os homens que estavam dentro do ônibus saíram na janela para dizer:
_ Ê barriga feia.
_ Vai tomar banho direito...

Tudo de brincadeira.
A cada parada os moradores dão água de beber.
Chegamos a Jamaraquá, uma comunidade de 20 famílias. O lugar é lindo. Tomamos banho no igarapé que encontra o Tapajós. Havia muitos peixes na água, peixes que pulavam, pássaros, sons... sol findando dia.
Chegaram duas senhoras e uma criança pra banhar. A senhorinha quis tirar uma corrida com Juliana até a outra margem e voltar. Passou um homem e disse:
_ A semana passada eu vi um poraquê bem aí debaixo desses paus onde vocês estão.
Chegaram 4 homens carregando uma canoa nas costas. Iam pescar alegres. Foram se esquentar primeiro.
A praia que o Tapajós forma aqui nesta época é grande e farta. Jantamos macarrão e soja, dormimos um pouco na praia para ver as muitas estrelas caírem. Acordamos com o latido do cachorro e voltamos para dentro do pouso de Seu Pedrinho.

terça-feira, setembro 19, 2006

Dia 19/09/06 – Santarém (PA)
Acordei com o corpo moído. Fiz alongamento por 2 horas. Percebi que respirar profundamente é uma coisa difícil. É um movimento sem interrupção. O cansaço nos torna sensíveis para detalhes. Correio, banco, internet, lavar roupas, banho na Firula. Tomamos açaí com tapioca. Fomos à sede do PSA passar um rádio para o Pedrinho de Jamaraquá, perguntar se podíamos ir para lá amanhã. Combinamos tudo. Vamos num ônibus de linha que sai às 11:00hs.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Quinan e Bifi - foto de João Ramid


foto - João Ramid


foto - João Ramid


Dia 18/09/06 – Santarém (PA)
Depois que o barco parte é impossível dormir. Balança muito, as redes ficam se batendo. Principalmente enquanto estamos no encontro das águas. No Arapiuns tudo se acalma. Duas toalhas voaram para o rio. Foram enxugar mãe d’agua.
Chegamos às 8 horas e fomos ver as palheiras colher folha de tucumã para fazer bolsas, cestos, artesanato. Elas colorem as palhas com sementes e plantas e é impressionante a beleza das cores que conseguem fazer. Acompanhamos todo esse processo, João fazia as fotos. Elas usam um grande pau com uma faca na ponta para cortar as folhas do tucumã que são bem altas, depois tiram os espinhos. Muitos ficam em suas mãos, elas arrancam um espinho com o outro mesmo. Deixam as folhas secar e colorem com a tinta já feita numa outra ocasião, pois dura um dia inteiro. Nós não vimos essa parte. Vimos apenas elas tecendo.
Almoçamos no barco ancorado, dormimos uma rápida cesta, nos trocamos e partimos para nova intervenção e apresentação. Tivemos a sorte grande, pois João nos presenteou com fotos lindas. Chegamos de voadeira, pois o barco não podia atracar na areia (é tempo de seca), o que já é grande mote para palhaços. Fizemos o espetáculo embaixo das árvores, com bancos em círculo formando uma arena. Um banco, com um monte de gente sentada, quebrou no meio da palhaçada, cachorro entrou no meio da cena, inventamos coisas novas, principalmente em relação ao espaço físico e à inclusão das pessoas em cena. Ser palhaço é sempre uma novidade. Depois da apresentação voltamos completamente pingando de suor e Bifi propôs de voltarmos para o barco nadando. Só tiramos os sapatos e fomos de roupas e cabaças. Terminamos a noite vendo o céu estrelado, as fotos tiradas no dia e jantando um belo peixe.
Anita viu uma estrela cadente. Foi a primeira vez que viu. Alegrou-se tanto! Mas não mais que seus pais que ficaram orgulhosos pela filha que realizou um desejo. Chegamos a Santarém às 22:00hs.
A terra não parou de balançar, mareadas, desacostumadas com tanta água.

domingo, setembro 17, 2006

Dia 17/09/06 – Barco rumo a Urucuriá (PA)
Dormimos na casa do Magnólio. Acordei às 5:30hs. Os cachorros quebraram um cano e foi um aguaceiro danado. Tivemos que acordá-lo para contar o problema dominicano. Estamos agora no barco do Saúde e Alegria com uma expedição fotográfica na Ponta Grande e Urucuriá. Dormiremos no barco. Estamos com Babi (que trabalha com a sustentabilidade na floresta), sua esposa Lica, sua filhinha Anita, João Ramid (fotógrafo vindo de Belém), Gorda, sua filha Cecília e toda a tripulação: Rosinha (cozinheira), João (capitão) e Roberto (marinheiro).
Gorda nos ensinou músicas amazônicas. Ela nos disse (depois de assistir nossa apresentação) que éramos medievais.
A palavra cambalhota vira calambiota na boca de uma criança.

sábado, setembro 16, 2006

Dia 16/09/06 – Santarém (PA)
Acordamos 4 da manhã, tomamos café com cará e pão caseiro feito pela professora. Partimos com o dia nascendo. A esposa de Célio deu uma despedida tão carinhosa: ela parecia criança, abraçando, desculpando-se pela simplicidade da casa, estava com olhos ingênuos. Quase não falava. Só ria e abraçava.
Ah, esse momento é tão esquisito. Dar o adeus sem saber se voltaremos. Existem dois momentos que considero muito importante: a chegada e a despedida.
No rio Arapiuns a travessia estava lisa, mas ao encontrar o Tapajós o caldo engrossou. As ondas e vento faziam a lancha saltar. Quase viramos duas vezes.
Em momentos assim em que a natureza é mais forte, sinto plena confiança em tudo. Despedimo-nos de nossos companheiros de viagem em Alter do Chão. Ficamos na praia tomando sol e esperando a bagagem secar, pois tudo se molhou na travessia. Almoçamos arroz, farinha e pirarucu e fomos de ônibus para Santarém. Voltamos bobas da vida, reconstituindo a viagem, rindo das felicidades de ontem. Passamos na casa de Vini e Rafael para pegar nossas malas e cachorra e fomos para a casa de Magnólio. Lavamos roupas, acessamos internet e supermercado. Dormimos mortas de cansaço, suando de calor.

Minha memória é feita de retalhos.
- juliana balsalobre -

sexta-feira, setembro 15, 2006

foto de João Ramid


Dia 15/09/06 – São Pedro (PA)
S. Pedro é uma comunidade com 140 famílias (mais ou menos 800 pessoas). Fica numa ponta de terra cercada pelo rio dos dois lados. Há uma escola multi-seriada que vai até o terceiro colegial e tem energia solar.
Dormi muito bem, choveu durante a noite. De manhã comemos cará e café, nos alongamos e Juliana se preparou para uma intervenção sozinha. Enquanto isso ouvíamos a rádio rural comunitária. As pessoas ligavam para mandar recados e oferecer músicas. Ligou uma criança que ofereceu a música para sua avó Anita. O radialista perguntou se era a Anita esposa do seu Antônio Cunha do bairro tal, mas não era. Logo em seguida ligou uma senhora conhecida. O radialista perguntou como tinha sido sua festa de aniversário. Mais tarde, depois do comercial das balas e pirulitos Aikidoce, ele mandou um recado para a comunidade de Óbidos: o caixão com o corpo da fulana de tal chegaria lá no sábado, que a família esperasse...
Bifi saiu para sua pesquisa pessoal e eu registrei. Foi bem interessante, mas não dá para ficar mais que 1 hora, no máximo 1:30hs pois o calor é insuportável. Quando chegamos de volta na casa onde dormimos, a esposa de Célio disse que o rosto de Bifi estava pipocando para fora. Estava vermelha de calor.
Fomos direto para o rio nos refrescar.
Quando uma criança trouxe um caramujo para Juliana ver. Ela o colocou no ouvido:
_ Alô? Quem fala? É o Boto? O boto que é marido da Bota? O que é que você está fazendo? E a Bota está? O Boto está botando a Bota? A Bota botou no Boto?
...
Sorrisos tímidos. Inclusive da mãe que lavava roupa.

Aqui na frente têm uma ilha onde moram apenas dois homens chamados: Xabréga e Jaboti.

Tem uma estória aqui dessa comunidade, quem nos contou foi Rafael (médico do PSA), que veio dar palestra sobre métodos contraceptivos. Perguntou à uma mulher como ela fazia para prevenir filhos. Ela disse:
_ Coito interrompido.
_ Quantos filhos a senhora têm?
_ 12.
_ Então não está dando muito certo, né?
_ Mas é que eu só comecei depois do décimo segundo.
_ Tá, e como funciona esse coito interrompido?
_ É assim: quando eu e meu marido estamos lá na cama, na hora que ele arregala aqueles olhões, eu ponho os pés no peito dele e chuto ele pra fora.
Assim é que é.

Às 19:00hs fomos apresentar no circo Mocorongo armado na escola coordenado por Marisa (a palhaça Amorosa que fez um número sobre Aids). A comunidade apresentou um número falando sobre o cloro, Célio cantou e tocou músicas compostas por ele. E nós, apresentamos nossos números entre um e outro.
Havia umas 200 pessoas e o clima era de verdadeira alegria. As crianças riam tanto, tanto que dava gosto. Nós estávamos livres, nos divertindo, improvisando, com tempos presentes e perfeitos, felizes da vida por estar ali com aquelas pessoas, naquele lugar. Foi emocionante mesmo.
Suadas fomos tomar banho de rio Arapiuns. Marina, Juliana, Ivete e Marisa. Todas peladas na noite estrelada. Que maravilha! Durmo feliz.

Tem uma imagem que nunca quero esquecer: enquanto Celso tocava, três meninos juntos olhavam pela fresta da pequena tenda armada. 3 meninos juntinhos, 6 olhares brilhantes, 3 sorrisos. E eu ali me emocionando. O palhaço é encantador. Tem o dom do encanto.
- juliana balsalobre -

quinta-feira, setembro 14, 2006

foto de João Ramid

Dia 14/09/06 – S. Pedro (PA)
Somente de manhã percebemos que o lugar onde dormimos era uma escola.
Durante a noite a cruviana chegou ( frio úmido da madrugada) e fui me esquentar no sol nascido às 5:00hs debaixo de uma seringueira repleta de ninhos de japiím. Seu ninho é comprido e lembra o tipiti. O danado imita o canto de vários pássaros. Carlinhos me levou para ver um mico filhote. Estava no telhado da casa. Carlinhos estava na minha frente e o mico ao vê-lo, nem deu bola; mas quando me viu se arregalou todo me olhando do começo ao fim, entortando a pequena cabeça. Vi também um ovo azul de uma galinha chamada Inanbu. Fomos nos vestir de palhaças e nos aquecer. Todas as crianças ficavam em volta curiosas, rindo da roupa, do sapato, dos nossos olhares. Corriam para chamar os outros. Fizemos um improviso de 2 horas seguidas que foi extremamente rico. Foi um improviso itinerante, com as crianças nos seguindo. Começou na escola, passando pela igreja e terminando dentro do rio com todas as crianças nadando junto conosco. Entramos no rio de roupa e tudo, pois estávamos pingando de suor, com a roupa cheia de areia.
Depois do almoço tomamos outro banho de igarapé com as crianças.
_ Bifi, vem nadar!
_ Quinan, vem pra água...
Passamos praticamente o dia todo dentro d’água igual curumim.
Na volta a agente de saúde havia chegado para vacinar as crianças. Uns meninos diziam:
_ Eu vou é me esconder nessa capoeira.
Outros diziam:
_ Eu vou é me transformar num cajueiro... Eu vou é virar terra e ninguém vai me encontrar...
A brincadeira passou a ser inventar o tanto de coisas que eles virariam.
Jantamos às 17:00hs caldo de carne com arroz e farinha.
Despedimos-nos para seguir à outra comunidade. As crianças foram junto até onde puderam. Ficaram na margem acenando o tchau até a vista não alcançar mais. Gritavam:
_ Tchau Bifi.
_ Quinan, não vá embora!

quarta-feira, setembro 13, 2006

foto - João Ramid

Dia 13/09/06 – Comunidade de Pascoal (PA)
Escrevo à luz de uma lanterna que tem como suporte meu pé. Marina ao lado, escreve à luz da vela. Estamos em Pascoal, comunidade ribeirinha do Arapiuns.
Viemos com a lancha do STRS (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém) com a Marisa do PSA, Ivete e Célio (líderes comunitários). Passamos 5 horas no rio imenso e farto. Chegamos na hora do pôr do sol que aqui é vermelho. Tudo fica vermelho. O céu, a mata, o rio, as pessoas.
Armamos as redes e tomamos banho no igarapé já de noite. Uma menininha chamada Daniele foi conosco para mostrar o caminho e segurar a lamparina. Enquanto tomávamos banho ela brincava com as formigas. Na volta vimos uma aranha caranguejeira enorme e peluda. D. Ivete que viu. Juliana quase pisou. Jantamos todos juntos. Charutinho (peixe), arroz e farinha. Pascoal é uma comunidade com 20 famílias.

terça-feira, setembro 12, 2006

Magnólio

Dia 12/09/06 – Santarém (PA)
Hoje de manhã pegamos uma carona com Magnólio em seu fusquinha Judete, que tem um pneu no porta luvas. Contou-nos que colocava o rádio ligado para o papagaio ouvir e repetir as palavras. E ele nada de falar. Em compensação, quando ligava o liquidificador, o papagaio entrava em transe: brrrr, brrrr...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Dia 11/09/06 - Santarém (PA)
Fomos à Belterra com Rafael que ia pegar alguns cadastros de pacientes no hospital e secretaria de saúde. A cidade tem 72 anos e foi construída por Henrry Ford na época da extração da borracha. Restou assim: uma pobre cidade de arquitetura americana no meio da Amazônia. Visitamos a sede do PSA (Projeto Saúde e Alegria) e conhecemos Elis, filha de palhaços. Ela tem uma vivacidade e brilho nos olhos inconfundível. Toda a família é circense. Uma irmã mora na Bahia e outro irmão no Ceará. Tiveram circo de lona itinerante de 2 mastros (costurado e impermeabilizado por seu pai). Agora eles têm uma lona de apenas 1 mastro. Almoçamos e fomos para casa de Rafael e Vini descansar. O calor no meio dia é insuportável. O sol das 17:00hs ainda arde de tão quente! Hoje tomei 4 chuveiradas para refrescar. Conhecemos Magnólio que é realmente uma figura, como todos dizem. Ele nos contou um pouco da sua vida e tudo que já fez mundo afora. Ele e Jacaré (seu irmão) eram uma dupla de palhaços. Faziam números de acrobacia. Fizeram uma viagem pelo litoral brasileiro e muitas vezes, para ganhar o pão nosso, trabalhavam de garçons. Eram garçons-palhaços que pegavam o pedido em meio de trocas de bofetões, brigando pelos clientes... ganharam boas gorjetas. Viajaram com uma cachorra que sumiu por causa de um quibe!
Magnólio é seu nome de palhaço. O nome dele mesmo é Paulo Roberto.

domingo, setembro 10, 2006

Dia 10/09/06 – Santarém (PA)
Fomos à Alter do Chão e passeamos de canoa com motor (chamada de rabeta) pelo rio Tapajós e igarapés. A natureza aqui é realmente impressionante!
Aprendi o nome do pássaro de barriga amarela: japiím.
Tudo é poesia e dor. Minha lombar dói, meu olho fecha.

sábado, setembro 09, 2006

Dia 09/09/06 – Santarém (PA)
O navio atracou no porto de Santarém às 3 da manhã e como ele ficaria até às 10, esperamos amanhecer. É um misto de sensações chegar numa nova cidade sem conhecer ninguém, com alguns números de telefone indicados por amigos e um breve contato (por e-mail) com o Magnólio (palhaço e coordenador cultural da ONG Saúde e Alegria). Ele está viajando e só chegará daqui há 3 dias.
O Saúde e Alegria é uma ONG que atua nas comunidades ribeirinhas dos rios Tapajós e Arapiuns na área de saúde e educação e utilizam a linguagem do circo, palhaço e jogos dramáticos para a absorção das informações. Viajaremos com eles para as comunidades.
Viemos para a casa da Gorda, que de gorda não tem nada.
Quem nos deu o telefone dela foi nossa querida amiga Renata Meireles e disse que tínhamos que conhecê-la. Gorda nos recebeu em sua casa com muito carinho. Ela e seu filhinho de nome Antonio Felipe (de 2 anos) que tem uma curiosidade cativante e um jeito encantador de repetir as últimas palavras. Aqui faz um calor infeliz. É mais quente que qualquer lugar (menos do que Manaus, dizem). Conhecemos Rafael, médico pediatra do Saúde e Alegria e fomos com ele, Gorda e Felipe fazer um passeio de canoa até uma praia chamada Maracanã.

O silêncio me murmura. Por que não consigo decorar o nome dos pássaros? Queria sabê-los só para dizer: aquele ali é o tal, aquele outro o tal... aqui tem um pássaro muito lindo de barriga amarela e asas pretas. Qual o nome? Esqueci de saber.
- juliana balsalobre -

sexta-feira, setembro 08, 2006

Dia 08/09/06 – Navio rumo à Santarém
O navio parou agora em Almerim e já segue. Todas as paradas são muito rápidas (10 minutos). Na última entraram umas 20 pessoas que foram para o piso de baixo. Armaram suas redes junto com as mercadorias: cerveja, caixa de ovos, cebola. Firula também está nesse piso, ora na proa, ora dentro. Mas só pode freqüentar o andar de baixo e tem de ficar amarrada na guia. Firula é a minha alegria preta. Adapta-se a qualquer lugar e com todas as gentes.
É muita água aqui. Uma imensidão de líquido. Palavra feia é essa: líquido. Líquido, liquidar, liquidação.
Para os ribeirinhos o rio é sua rua e o quintal a mata. Vimos botos – pulam emparelhados e voltam para o fundo. É tão alegre quando aparecem!
Às 18:00 horas o navio atracou em Monte Alegre para descarregar mercadorias. Entra gente, sai gente. Vendedores entram no navio. Vendem cocada (50 centavos) e amendoim (50 centavos). A cocada é deliciosa.
Tem um homem que dorme com a parte aberta da rede para baixo e ele também fica com a barriga pra baixo. Só se vê a cabeça pra fora, parece um morcego. O Jonas de Frechal já havia me dito que tem gente (inclusive ele) que gosta de dormir assim principalmente para se esquentar do frio. Esse mesmo senhor num outro momento me perguntou se eu era pesquisadora, pois estava portando um livro e caderno. Eu disse que não. E ele:
_ É de igreja, né?
_ Não meu senhor. Eu faço teatro, palhaço.
_ Ah.
...

Tem um senhor negro de cabelos brancos que veio com o neto na viagem.
O menino deve ter uns 4 anos.
Só os dois.
Cada um com sua rede.
Ambas da cor verde.
Uma ao lado da outra
É bonita a relação deles. O velho e o menino.
Em outra ocasião o velho assoprou o leite quente do neto.
Este esperava a hora em que, com sua pequena boca sentiria o gosto mais gostoso do leite.
Um leite branco como os cabelos do avô.
E esse seria o leite mais especial que tomaria em toda a sua vida.
Tudo bem, estava eu tentando fazer poesia de uma relação que não sei bem por que me fascinou e me fez mudar de caminho várias vezes só para contemplá-los. Tem pessoas ou “algos” que me hipnotizam.
No navio: a lua, o velho e o menino.

Marina já havia ido dormir e eu comecei a me conectar com duas crianças. Uma menina de 9 anos e o irmão Jota de 11. Sentei ao lado da menina e ficamos conversando. Ela falou que tinha olhado a cadelinha, falou da barbicha da Firula. Toda hora a mãe pedia que ela olhasse o Jota e queria saber onde ele estava. Perguntei se ela sempre tomava conta dele. Ela respondeu que o irmão não escuta direito, por isso a insistência da mãe. Eu e o menino nos conectamos. Parti para meu estudo do corpo desobediente. Bati o pé, (como quem espera impaciente) e o mandava parar com um Xiiii. Depois foi a vez da mão e eu repetia a mesma repreensão. Jota ria. A mãe o chamava para dormir e ele ficava me olhando para ver o que eu faria. Marco o tempo com o pé novamente e minha mão dá um tapa no pé. Jota ri. Repito a operação. Ele, brincando junto, também mexe seu pé. Olho para o pé de Jota. Repreendo-o. Ele ri. A irmã busca Jota que vai dormir embalado na rede.

O funcionário aumentou a temperatura do ar condicionado a pedidos coletivos. Hoje de manhã apareceu um boto preto (aqui chamado de Tucuxi). Dona Santana disse que devia haver muitas mulheres menstruadas no navio. Essa senhora é de Manaus e nem bem nos conheceu, já nos convidou para ficar na casa dela. Deu até o número do telefone. Quando nos viu, perguntou se éramos hippies por causa das mochilas. O estreito de Breves já ficou pra trás. Agora quase não se vê a margem, só esse oceano de rio que é o Amazonas.
Ei, eu vi um boto cor de rosa!
Não vi pulando na água, confesso, mas dando cambalhotas na superfície. Parecia uma língua molhada.
Tomamos café da manhã e almoçamos a mesma comida de ontem: arroz, feijão, macarrão e cozidão de carne. Esse barco merecia um filme. Êta Brazilzão sem prumo! A lua está linda de novo e nós cada vez mais dentro do dentro, rio acima. Hoje vi um bando de garças voando.
Três pessoas já me perguntaram por que passo o dia todo lendo, se estou na faculdade ou se estou escrevendo um livro...
Terminei Macunaíma, nosso herói. É genial! Desses livros que deixam saudades.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Dia 07/09/06 – Navio rumo à Santarém (PA)
Crianças entram no navio para pedir dinheiro. Um menininho de pele morena, cabelo curumim que deveria ter uns 8 anos de idade, veio me pedir. Eu fui perguntando de onde ele era. Ele disse:
_ Uma vilazinha bem aqui que se chama Maranhão.
_ Qual o seu nome? Perguntei.
_ Roberto Carlos.

Eu disse que o meu era Bifi.
Ele sorriu dentes pretos e foi embora.
Os ribeirinhos continuaram chegando em suas canoas. Crianças dão tchau, as mulheres são sérias e tem uma postura que me mostra dignidade. Aqui no navio há muitas mulheres jovens com bebês, velhos, crianças. Tudo gente muito simples indo pra Manaus ou Santarém em sua maioria.
Nossa! Essa viagem são tantas e tantas coisas. Estou tentando descrever um pouco em palavras.

Uma vez escrevi isso: um monte de r junto é o mar. E acabo de perceber que é muito bom escrever num caderno com linhas. As linhas me orientam, ajudam meu raciocínio e se eu quiser não segui-las, posso também. Elas, as linhas, me ajudam a me organizar. Organizar as palavras, o pensamento... Estou ficando um pouco tonta por causa desse vai e vem do navio ...
- juliana balsalobre -

quarta-feira, setembro 06, 2006

Dia 06/09/06 – Navio rumo à Santarém (PA)
Quase não dormi a noite por causa do frio e da luz espalhafatosa que fica ligada a noite inteira. Nós compramos o setor “rede sem ar condicionado” mas chegando no navio tivemos que ficar no setor “rede com ar”. É que na baixa estação, o navio não lota e eles colocam todo mundo junto para levar cargas na parte de baixo.
Sai para a proa que estava mais quente e a lua estava encantadora. Cheia, iluminava os meus olhos e o rio. Entramos no estreito de Breves. O lugar é esplendoroso. Gigante pela própria natureza. Na beira do rio vão surgindo casas palafitas, ora uma, ora outra, isolada. Tem até igrejas palafitas.
Mulheres, crianças e bebês dentro de canoas se aproximam do navio e ficam esperando alguém que lhes dê um dinheiro, roupa ou comida. De repente uma sacola plástica é lançada ao mar. A mulher que rema a canoa pega a sacola e o que tem dentro. Há também os vendedores de camarão, palmito e açaí. São crianças que remando suas canoas aproximam-se do navio, laçam-no com um gancho e atracam. Alguns não conseguem chegar ou acertar a mira: sobram se lamentando.

terça-feira, setembro 05, 2006

redes no barco


despedida


Dia 05/09/06 – Belém (PA)
Hoje às 17:00 horas pegamos o navio para Santarém. Partimos das Docas, portão 15 cada uma com sua mochila que continha roupas de palhaças, sapato de palhaço, cabaça, maquiagem, poucas roupas, 1 par de havaianas, 1 livro, caderno de viagem, rede, mosqueteiro, lençol, comprovante de vacina, alguns remédios e um gravador.
Estavam presentes Marcos Quinan e João Guilherme que foram ver o embarque.
A viagem durará 2 dias e meio.
O navio que sairia às 18:00 hs só saiu às 20:00 hs. Motivo: carregamento de cervejas para Parintins. Enquanto isso, o povo no salão espera.
Um povo paraense, pele mais escura que a minha e feições indígenas.
Estou agora deitada em minha rede num salão com 200 outras, cada qual com sua cor, seu detalhe. As redes ficam lado a lado numa distância de 15 cm entre elas. Muitas famílias, cada uma traz sua comida. A rede no navio vai balançando tão gostosa, traz um soninho...
...
Eu disse 15 cm entre uma e outra? Pois bem, 15 cm sem gente dentro. Porque com gente, o espaço diminui para uns 2 cm ou quase nada. Fica todo mundo amontoado mesmo.

Bonito ver o momento exato em que meu pai se despede. Desde criança é assim: na hora de dizer tchau, ele vira um menino de olhos mareados, tão saudoso, tão alegretriste ao mesmo tempo.
Ainda bem que o verei daqui a 2 meses.

domingo, setembro 03, 2006

ver-o-peso

Dia 03/09/06 - Belém (PA)
Apresentamos novamente na Praça da República às 10:30 hs da manhã. A praça estava lotada, um verdadeiro caos. Muitas barracas de comida, roupas, artesanato... pais, filhos, cachorros, palanque com protesto do movimento gay, "estátua viva" todo pintado de prateado comendo cachorro quente... música eletrônica em volume insuportável e nós duas ali.
A apresentação, apesar do caos, foi melhor que ontem. O corpo estava mais vivo, com mais ritmo e assimilamos melhor as mudanças do roteiro. Nos divertimos enlouquecidas com a praça. Havia umas 100 pessoas e ganhamos 60,00 reais com o chapéu.
De noite tomamos chopp de bacuri -fruta da região- nas Docas com João.
É bem gostoso, doce, com cheiro da fruta. Mas não dá pra tomar mais que dois, senão enjoa.

sábado, setembro 02, 2006

Dia 02/09/06 - Belém (PA)
Apresentamos nosso bom e velho espetáculo Semi-Breve às 20:00 hs na Praça de República. Fazia uma noite fresca de lua. A praça estava calma, haviam umas 40 pessoas. O anfiteatro é lindo com uma acústica espetacular, estava todo iluminado. A apresentação foi deliciosa, curtida. As mudanças que fizemos foram boas. A gag dos Santos é infalível! Mas ainda precisamos ajustar a ligação entre as cenas. Ganhamos 40 reais no chapéu.

sexta-feira, setembro 01, 2006

fazem-se dentaduras

Dias 31/ago, 01/set - Belém (PA)
Nesses dias estivemos ensaiando e reformulando nossas gags, incluindo as que aprendemos no Ceará e acabam de entrar no roteiro de Semi-Breve.
Fizemos também o planejamento para nossa pesquisa nas comunidades ribeirinhas dos rios amazonas e tapajós, para onde iremos na próxima semana.